Som na caixa

29.6.08

" Essa tartaruga algoz não e nada surrealista, ela e Pop" ( Leila comentando sobre o " Kill Bill" no poema da Nora)



mayra, hahahaha. muito engracado o texto todo, agora que reli, nao me lembro do meu poema, mas ri a beca coom vcs comentando sobre ele eheheh

27.6.08

Vou ter q devolver o Estrela Distante, sem ter chegado ao fim. Fiquei morrendo de medo do poeta que matava mulheres, tinha tomado a decisao de só ler o livro durante o dia, e fora de casa,
demonstração do poder de penetração da escrita de Bolano?
de qualquer modo, minha imaginação está ainda com o Ruiz-Tagle cerceando algumas possibilidades que não li.

formiguinha

O verão novo

O verão que perdemos
não poderá fazer-nos
perder o verão novo

Há-de voltar o corpo
e o mar será o mundo
revolto que já foi

O outono o inverno
serão se nós quisermos
o verão que perdemos




Gastão Cruz

26.6.08

vocábulos

- La Pologne? La Pologne? Lá faz muito frio, não é?
-perguntou
suspirando com alívio. É que surgiram por aí tantos países,
que o melhor
é limitar a conversa ao clima.
- Oh! minha senhora- pensei em responder-lhe assim:os poetas
da minha terra escrevem de luvas. Não quer dizer que nunca
as tirem, se a lua aquecer, então sim.
Com as estrofes compostas de brados retumbantes, pois só assim
se ouvem no meio dos vendavais urrantes, cantam o simples
touro e os pastores de focas. Os poetas clássicos gravam com
sincelos de tinta nos montículos de neve batida pelos pés. Por
sua vez, os poetas decadentes choram a sua sina vertendo
estrelinhas de neve. Quem quer afogar-se precisa de um
machado para abrir um buraco de gelo. Oh ! Minha senhora,
minha cara senhora.
Pensei em responder-lhe assim. Mas esqueci-me como se diz foca
em francês. Também não estava certa de como se diz sincelo
e machado.
- La Pologne? La Pologne? Lá faz muito frio, não é?
- Pas du tout- respondi glacialmente.





Szymborska

conversa com a pedra

Bato à porta da pedra.
- Sou eu, deixa-me entrar,
quero ver-te por dentro,
saber como és,
respirar-te.

Vai-te embora - diz a pedra.
Estou fechada a sete chaves
Mesmo feita em pedaços
estaremos fechadas a sete chaves.
Mesmo reduzidas a areia
não deixaremos ninguém entrar.

Bato à porta da pedra.
-Sou eu, deixa-me entrar.
Venho por pura curiosidade.
Só em vida tenho esta oportunidade.
Gostaria de passear-me pelo teu palácio,
depois visitar ainda a folha e a gota de água.
Não tenho muito tempo para tudo isto.
A minha mortalidade deveria comover-te.

- Sou de pedra- diz a pedra
e isso obriga à seriedade.
Vai-te embora.
Não tenho os músculos do riso.

Bato à porta da pedra,
-Sou eu, deixa-me entrar.
Dizem que dentro de ti há grandes salas vazias,
nunca vistas, belas para nada,
surdas, sem eco de quaisquer passos.
Confessa que pouco sabes a esse respeito.

Grandes salas vazias- diz a pedra,
mas lá não há lugar.
Belas, talvez , mas para além do gosto
dos teus pobres sentidos.
Podes conhecer-me mas nunca desfrutar-me.
A minha superfície está voltada para ti
mas o meu interior permanece de costas.

Bato à porta da pedra.
- Sou eu, deixa-me entrar.
Não venho em busca de eterno asilo,
não sou infeliz
nem desabrigada,
o meu mundo é digno de regresso.
Entrarei e sairei de mãos vazias.
E como prova autêntica da minha presença,
terei para exibir meras palavras
nas quais ninguém acreditará.

Não entrarás- diz a pedra.
Falta-te o sentido da partilha.
E nenhum outro sentido te substituirá o sentido da partilha.
Nem uma visão apurada e omnividente
te há- de valer sem o sentido da partilha.
Não entrarás, em ti esse sentido é mera concepção,
o gérmen, imaginação.

Bato à porta da pedra.
- Sou eu , deixa-me entrar.
Não posso esperar dois mil séculos
para entrar sob o teu tecto.

_ Se não acreditas em mim - diz a pedra-
vai ter com a folha, dir-te-á o mesmo.
Com a gota de água, o mesmo te dirá.
Por fim, pergunta a um cabelo da tua cabeça.
Estou prestes a soltar uma enorme gargalhada
mas não tenho o dom do riso.

Bato à porta da pedra.
-Sou eu, deixa-me entrar.

-Não tenho porta- diz a pedra.






Wislawa Szymborska, traduzida por Elzbieta Milewska e Sérgio das Neves

22.6.08

a esta experiência
se somam dois lados
ela cheira suas roupas
pra saber se tem valor
eu as arrumo em cores


plastifico o dicionário
como nos tempos de escola
e insisto no amarelo
ela enche de sacos plásticos a geladeira


a céu aberto,
todos a observam
ele se mira no espelho
do elevador, frente
às câmeras
Meu professor de violoncelo disse-me que uma das maiores pianistas do mundo estudava enquanto lavava a louça.
Não fosse a comparação, acharia isto extremamente poético.

17.6.08

Quando há lua Czeslaw Milosz

Quando há lua e as mulheres passeiam de vestidos floridos,
Espantam-me os seus olhos , as suas pestanas e toda a ordem do mundo.
Parece-me que de tão grande e mútua atração
Podia, enfim, resultar a verdade definitiva.

6.6.08

O livro está muito além da propaganda, muito além mesmo !!!
Lindíssimo o livro Cal, que tenho o prazer de ter lido.
Nada daquilo que eu diga, também será fiel. o que Jose Luis mais acertou no video, para se aproximar de seu livro, foi a palavra " humano".
Interessante é vermos os lados das questões, um escritor fazer propaganda de seu próprio livro na tv, é algo bastante difícil de acontecer no Brasil, que eu saiba. Então, embora não responda nem em parte, a propaganda do próprio, vale a tentativa.




4.6.08

totalmente influenciada por arnaldo, fiz esta



Fórmula

atenção
intenção
e tesão

acho que é infalível
a não ser como poesia

poema de Arnaldo Antunes

As coisas têm peso,
massa , volume, tama-
nho, tempo, forma, cor,
posição, textura, dura-
ção, densidade, chei-
ro, valor, consistência,
profundidade, contor-
no, temperatura, fun-
ção, aparência, preço,
destino, idade, sentido.
As coisas não tem paz.

MUROS konstandinos kavafis

Sem circunspecção, sem mágoa, sem pejo
grandes e altos em redor de mim construíram muros.

E fico e desespero agora no que vejo.
Não penso noutra coisa: na minha mente esta sina rasga furos;

porque tantas coisas havia a fazer lá fora por ti.
Quando construíam os muros como é que não reparei, ah.

Mas nunca o estrondo de pedreiros ou som ouvi.
Imperceptivelmente cerraram-me do mundo que está lá.

2.6.08

Receia saber a ponte
que a levará ao próximo galpão
A amplitude de sua voz,
qual contorno

nem por isso se despede das frias lantejoulas de agora
(pendura-as nas sombras de dúvida)
Aspira, aspira: aspira
Em uma volta,aliás, escute:
datas , situações
era tudo assim?
e você se dá bem com isso?

com o sol enroscado na manhã
em golpes de luz
acorda seus pés
páre agora para retratá-la, a manhã
quando as janelas são só rotinas
quando os passos do mundo estão à sua volta

depois de várias manhãs você
nem sabe pousar a pele sobre si mesmo
por isso trava um espaço para si
estaria tudo à mesma
fugir da eletricidade do Tempo
de repente, como é de literatura, algo acontece
mas o quê ?
não ouve na estante nada molhado
não vê areias estações ladrilhos
nada acontece
ela esticou sua mente e se pôs a graduá-la:
fria
morna
ácida






Nora

marquesa de alorna Adilia Lopes

Vês
aquela
rapariga?
é gira

Mas
aquela
não é
uma rapariga
porque é
uma urtiga

Mas
também
é gira

O adjectivo
estraga tudo
( tudo
é o substantivo)

O adjectivo
aponta
porque é feio

Uma urtiga
não é
uma rosa
cor-de-rosa

Nem sempre
uma rosa
é cor-de-rosa