Som na caixa

22.9.08

uma poesia de Renato Mazzini

para Aníbal Cristobo

tantas desavenças
habitando a mesma
tonalidade calada,
de contidas explosões;
uma
cor em guerra.

debaixo da primeira
camada, ranhuras
de semelhança
com o amarelo de
um chinês congelado,

atravessando (a cor,
não o corpo) por sabe-se
quantas setas do vermelho
das aberturas da corsa

(presumindo o
leopardo, sua
falácia)

ainda sempre atonal e
em si restado o favo
da fruta, quando inerte.

20.9.08

Domeneck, as pessoas se escondem em caixas, respiram às vezes por gotas de ar, ainda dentro de uma caixa, por opção própria , e para disfarçar, e para se convencer,ainda dão à esta pequena instalação revestimento por fora.
Eu pra lá de qualquer parâmetro, me convenço também dos meus, quem passa insone à própria experiência?
Figurar , não é a solução, aniquilar nem por menos, mas pegar esta soma, às vezes rebeladora, e jogar pra cima, pro lado, dar uma revirada no que nos revira para ver se de lá sai uma mistura mais interessante. Às vezes dá vontade de dizer : ACORDA !
Se MEXE, SE MOVE.
Então, vamos fazer que nem o Franklin que teve a brilhante e engraçada idéia de dar respostas felizes? rsrs Eu adorei esta, se pudesse daria mil palpites por lá só para receber estas respostas. Respostas felizes são a melhor coisa que se pode querer. Já traz até alegria na gente.

..........

Ontem escrevi isto:


Porque eu espero na dança dos micróbios, ou sob o sabor das partículas, ou sob prova de artérias, ou sob a próxima chuva que não virá, ou sob a rede enrugada da pesca lá no rio de água fria, amostras de pêlos pretos sobre as batatas das pernas dos homens, ou porque eu espere, a espera sendo uma jaula. Há dificuldade na espera em se ajeitar)
Saudade, tempo incerto.
Tempo com gosto de acúcar mascavo. Saudade é o que atravessou mas não partiu.
Saudade, remorso do que foi vivido, mastigado com dentes de prazer.
Saudade bloqueador sonoro e visual.


Parei. Se fosse continuar o texto hoje, depois de dançar muito e com pessoas bacanas, depois de um dia em que estudei cello e comecei a tocar finalmente chorinho, quis dizer, apanhar no chorinho, depois de mostrar a um amigo as minhas poesias mais loucas, e depois de ouvir suas composições, e depois de encontrar uma super amiga, poeta de mão cheia, em pleno carnaval de Olinda ( Miriam, eu voltei, respondendo às suas 4 perguntas idênticas: vc voltou?)
Agora sou eu que uso o verbo voltar, volta a escrever? Gosto do seu requinte na poesia.

relinxando o sentido do nexo, e atravesszando , tirando aliás o ndo das frases, que ninguém aguenta certos traços de escrita e alguém aguenta ouvir traços de escrita?

Ninguém me fez nada. Ninguem nunca faz nada. Somos todos inocentes, não sabiam??
A revolta não se dá apenas na linguagem , a revolta se dá na pele, no cheiro, no corpo. A revolta vem pelos olhos, pelas orelhas, pelo que negamos existir.
Se alguém criar a revolução no Brasil , tô dentro.


Sei lá a solução.
Bom, pelo menos tenho aplicado na minha vida , algumas revoluções internas.
Enfim, é bom se experimentar.



Quem gostou, aprova. Quem não gostou faz cara de bobo.

tchau

19.9.08

Estou apaixonada, delirando com Radiguet.
Gênio.
Meus transes me faziam tomar nosso amor por um amor excepcional. Pensamos ser os primeiros a sentir certa perturbação, não sabendo que o amor é como a poesia, e que todos os amantes , até os mais medíocres, imaginam inovar



em " com o diabo no corpo", de Radiguet

10.9.08

Pode crer... estamos mesmo fudidos. Questão de estilo, questão de esquilo, questão de estíbio, questão de estio... argh!... na verdade, o sabichão não passa de um ridículo ventríloquo (gorjeando na garganta a voz alheia) mezzo mister Magoo mezzo mister Bean... hehehe... a tática continua a mesma: compasso de espera! eu vou pra USP e, para usted que fica, avante vingador!



scrap de fabiano calixto para leandro

8.9.08

o que é um baibai poema de Angélica Freitas

baibai es un adios.
un farewell sin pañuelos.
tem gente que escreve haicai,
três linhas à bashô.
baibais também seguem modelos.

quem escreve baibais sabe que acabou
-se o que era doce.

§

espancada na infância molha os pés no rio orinoco
debaixo d'água como soa a ocarina?
brbrlllbrrrr brbrlllbrrr

§

esnobada na festa molha os pés no rio da antas
debaixo d'água como faz seu coração?
'sai da chuva' 'já pra casa'

§

sufragette sem rouge molha os pés no rio clyde
debaixo d'água como faz o seu cabelo?
esquerda.... direita.... esquerda.... direita....

§

feia nas fotografias molha os pés no rio reno
debaixo d'água como faz seu celular?
'depois do bipe lorelei depois do bipe'

Adilia Lopes

só depois de ler
Barthes
é que camila
ficou a saber
que o dedo da masturbação
é o médio
até aí tinha usado
sempre
o indicador
experimentou também
o polegar
e viu que todos serviam
meu menino
seu vizinho
pai de todos
fura bolos
mata piolhos
depois de perder a virgindade
experimentou
com um tubo de Cecrisina
metido num Durex Gossamer
também servia
mas isto nada
tem a ver com o amor
tem a ver com o escrever
e com o pintar
e dá menos satisfação
a menos que Camila
se lembre de Jénia
e da penetração
então usa
só os dedos
e serve
para adormecer

eu sou um cavalo

Existe uma revista, chamada Inimigo Rumor, que
é imperdível. Existe outra revista, que também é imperdível
chama-se Modo de Usar
A revista Inimigo , edição de aniversário, está um caso
de amor comigo.

Nela, este poema de Hans Arp

eu sou um cavalo


Eu viajo em um trem
lotado
em meu compartimento
cada lugar se acha ocupado por uma mulher
que carrega um homem sobre os joelhos
o ar está insuportavelmente quente
parece uma atsmofera tropical
todos os passageiros
têm um apetite gigantesco
eles comem sem parar
de repente os homens começam a gemer
eles pedem que lhes dêem o seio
eles pedem paraser amamentados
eles querem mamar
eles desabotoam os corpetes das mulheres
e tomam do seio
Eles se regalam de bom leite fresco
só eu não mamo ninguém
nem sou mamado por ninguém
ninguém me pôs nos joelhos
pois eu sou um cavalo
estou sentado ereto e alto
sobre minhas patas traseiras
sobre o banco da estrada de ferro
eu me apóio confortavelmente
com minhas patas dianteiras
relincho fortemente hiihiihii
em meu peito brilham
os seis botões do sex-appeal
bem alinhados
como os botões brilhantes de um uniforme
ó como o mundo é pequeno
ó como as cerejas são grandes

4.9.08

Do nada , a esta hora. Como que por medo de que a vontade passe seu beijo, um aceno perplexo .
Oh , maldito brega do amor !
Seu beijo me encara: estralos, maminhas e salivação.
As horas dizem Realidade
Ficção : dobrar jornal, espatifar os dedos levemente ao levantar o tornozelo, dobrá-los sem coerência. Inconsciente a dobra retorna e expele.
Qual movimento determina o outro?
Perda trazendo fumaça.
sonâmbulo de um desejo
adormeço sua hipótese

levei o ginsberg comigo e foi ótimo. :-)

desculpa angelica, vi esta sua no orkut e amei

bjs com saudades

Eduardo Galeano

há uns quinze bilhões de anos, segundo afirmam os entndidos, um ovo incandescente estalou no meio do nada e deu nascimento aos céus e às estrelas e aos mundos.

Há uns quatro mil ou quatro mil e quinhentos bilhões de anos... ano mais, ano menos... a primeira célula bebeu o caldo do mar e achou bom, e se duplicou para ter a quem convidar para beberem juntos.

Há uns dois milhões de anos,a mulher e o homem, quase macacos, ergueram-se sobre suas duas patas, e abriram os braços, e se abraçaram... e se penetraram... e pela primeira vez tiveram a alegria e o pânico de ver-se cara a cara enquanto praticavam o ato.

Há uns quatrocentos e cinquenta mil anos a mulher e o homem friccionaram duas pedras e acenderam o primeiro fogo que os ajudou a defenderem-se do inverno.

Há uns trezntos mil anos a mulher e o homem se disseram as primeiras palavras e acreditaram que poderiam se entender.. e nisso estamos... e nisso estamos até agora: querendo ser dois, mortos de medo, mortos de frio, buscando palavras.

escrevi, apaguei, lá vou eu

frase em aula, que adorei. ambas
No drama há sempre uma idéia de conflito que será resolvido. O conflito caminha para uma resolução, dentro ou fora da obra, como no caso de Brecht. nesse trágico contemporaneo, há uma desesperança da resolução do conflito. o qe pode resultar numa imobilidade, mas também, citando Giorgio agamben, num desejo profanador. acho que a literatura tem que incomodar. ou então, não tem amis sentido


Beatriz Resende, no Prosa e Verso