Som na caixa

27.2.09

livros na mesa

Ontem estive na Estação das Letras, no evento Livros na mesa. Trata-se de uma troca de livro ( cada um leva o seu, e pode levar mais de um ) seguida de um encontro de leitura com algum escritor.
Ontem a palestra foi com Afonso Henriques Neto, que está prestes a lançar seu primeiro livro de traduções, com os poetas Catulo, Rimbaud, Villon, Blake, Huidobro e Guinsberg.
Da conversa que tivemos com Afonso Henriques, guardei esta frase:

"Não há uma imagem boa que não tenha uma história longa"



Dia 28 de março haverá troca de livros e depois um encontro de leitura sobre o universo de Clarice Lispector, com Claudia Nina e Susana Schild

Para saber sobre os cursos dados na Estação das Letras, que é coordenada por Susana Vargas ,aniversariante ontem, acesse: www.estacaodasletras.com.br

Curitiba, danças do mundo e apresentação de arcadas brasileiras





Estive nas duas, numa apresentação dançando e noutra tocando. Na foto cheinha de contrabaixos, eu estou ali no cantinho, segunda pessoa, da direita para a esquerda, no violoncelo. Na outra, estou no canto, de vestido azul, conversando com a Paula

16.2.09

Francisco Alvim, duas poesias

O inimigo


Que você esteja
do meu ou do outro lado da mesa
tanto faz
Lá ou cá
você em verdade sou eu
E que os outros não julguem mal nosso fim
Quando lhe der a morte
ou recebê-la de você
estaremos vivos no que sobreviver





Conheces bem
os poros de tua pele
Contabiliza-os sempre tua mente
e as gotas de suor que vertem
sobre o soalho e a sombra
de outras mil epidermes

15.2.09

poesia ultra contemporânea, pelo menos ao tratar da idade

não é aquele de bolinha. também não é o que faz bem,
você não gosta? eu não aguento falar de sucrilhos, mas eu aguento comer sucrilhos
por que sua cor favorita é verde não é outra cor?
fala alguma coisa. ela mostra a boca cheia de sucrilhos.
ela é pequenina com galhos esticados.
como uma árvore assombrada que não é assombrada, só é assustadora.
vai ter que ser sem leite. não tem mais leite. não tem uma surpresa aqui dentro? nenhuma figurinha, nenhuma cartinha? posso experimentar uma dessa? experimentar não, comer. tem uma dessa que tem chocolate.então, enquanto isso, vou esperar para ver




Dito por Sahyja Rodrigues Marinho, e anotado pela mãe dela
ps: eu não faria melhor

carnaval 2009 - fotos Andrea Lion





Eu, de Pittybull, Andrea e Juju, na primeira foto
Na segunda foto, Clarice ( filha da Andrea), e Sahyja, minha filha

10.2.09

onde está meu violoncelo?

Eu mesma esqueci tudo o que vou postar aqui.
Posso fazer do meu blog uma cortiça, já que não tenho em casa uma para pôr lembretes. Não soa mal.
Essa foi uma parte de uma aula com meu professor em Portugal, o homem que mais desvendou meus defeitos no violoncelo, e que fez eu retomar a vontade de estudar.
Sinto muita falta dele e de suas aulas. Embora pelo que escrevi aqui dê para ver como eu gelava ( e não era por causa do frio)


Tens de olhar o texto.
A vida não deve influenciar o estudo.
Não pensar que somos artistinhas e se hoje estamos mal dispostos então não estudamos
Cronometrar , relação científica.
3 prioridades, mesmo que o céu caia sobre a Terra. Se não há prioridade não há concentração de energia.
Não deixar dúvidas de dedilhação.
Se estudas de uma só maneira, tocas de uma só maneira.
Tem sempre que se adaptar.
Quando for estudar, já saber o que vai estudar. A partir disto você se conhece.
Como podes estudar sem tomar uma decisão?
Se estudas afinação e te pareces afinada, ou não estás a ouvir bem ou estás a pôr a barra baixa.
Afinação é como poeira.
Afinação - estudar com referências.
Mais sensibilidade com os micro intervalos.
A maneira de estudar tem que dizer o que não está bem.
Tem de ter regras, senão diz: estudei tão mal que está a parecer tudo bem.
Quando há acordes dissonantes , fazer mais longa a nota antes do acorde.
" Preciso estudar de uma maneira diferente, vou ter de pôr tudo em causa "
Estudar encadeamento.
Sò se ver o seu desenho e não se ver o desenho instrumental.
Há um primeiro trabalho que é limpar a tela.
Grão do som.
O problema da desorganização é o imprevisto.

8.2.09

Uma questão ressurge em minha mente todo o tempo.
Se escrevo um texto , e o coloco em versos, só por isso, ele é poesia?
Para mim não, mas isto é pessoal, como eu encaro a coisa.
Aqui neste blog ta cheinho de textos assim, alguns até coloquei a etiqueta isto não é poesia.
Sei lá, depois saem falando que o que escrevi é...
Outra coisa que me intriga muito é o corte do verso, o que determina que um corte seja feito aqui ou ali, quando a poesia é em verso livre.
Pode ser em qualquer lugar, lógico, mas como dar força ao poema através do corte, como os poetas lidam com isso.
Se alguma alma caridosa tiver apontamentos, deixe-os, por favor, ou manda um email, sinais de fumaça, o que for.

ela é dona do jogo

Há bastante tempo atrás, escrevi o texto abaixo falando da minha mãe. Aos dezoito anos, lembro-me que a revolta tomava meus pulsos, e surtei total caminhando praticamente o dia todo, durante três dias, nas lindas ruas que, como braços de um rio, desembocam na Serra do Japi. Caminhava para arejar. Para oxigenar. Caminhei tanto que hoje estou no Rio de Janeiro.
parêntesis: antes que alguém fale mal da minha mãe, ela é uma artista.



Mentiras fincadas
eficientes fórmulas de concessão
o grito vazio e nulo
a essência transformada
o eu em absoluto
o erro como regra
a autenticidade imitada
o orgulho que remete ao extremo
a glória do não porquê
a vontade da vitória
a necessidadedo julgar
a questão do porvir
Olhos cegos, mãos tensas, pessoas trancadas no círculo do ser
agitam-se, comem-se,
vomitam palavras rígidas
a voz cortada e um som
a carne, a dilatação dos pensamentos
apodrecem vivos

7.2.09

eu vim de lá, eu vim de lá, pequenininha - e adorava esta blusa




Reparando bem na foto, já não se fazem calcinhas como antigamente. Olha só como esta é confortável, pô , bem melhor do que as crianças de hoje têm que usar.
Estou quase entrando nesta de tudo antes era melhor.
Os brinquedos, eram ! Pode ser que por eu ter nascido em 75 eu prefira os brinquedos desta época, mas pode também ser que antes tudo era mais natural, mais a ver com a idade, mais ingênuo, até.
Brinquedos para a criança brincar.
Palmas para algumas lojas de brinquedos de madeira, onde muitas vezes encontra-se brinquedos de outras épocas. Palmas para o Palavra Cantada, para a Bia Bedran.
Palmas para os pais que brincam com seus filhos, para os grupos que trazem o folclore popular.

6.2.09

O poema não traduz o que acontece, palavra não expressa a realidade, inventa.
O poema é imprevisível, depende de fatores que estão na ordem da sua necessidade de invenção.
SE a vida pode ser inventada, pode ser mudada. O que mais importa é a qualidade do que se faz.
O SIGNIFICADO ESTÀ NA LINGUAGEM, NÂO ESTÀ NO AR.
Cada linguagem tem sua matéria, seu significado próprio. Nenhuma linguagem é traduzível em outra.
Em poesia, não pode ficar abstrato, palavras tÊm carne. Algum modo de comunicação tem que ter, nem que seja para comunicar o incomunicável. Quando você não entende nada, você não tem entrada.
Você escreve para os outros.

todas, frases de Ferreira Gullart
Sei que em algum canto está ela retratando cheiros e cores para reflexos que poderiam passar imunes não fosse sua graciosidade e sutileza .
Ela apalpa uma flor, sente sua textura, se pudesse degustaria com a boca esta flor . Para quê? Para entendê-la, captá-la, sentí-la? Chuto o verbo saborear.
Seu sorriso tem a ver com um lado infantil de conhecer. È um sorriso do observador que penetra o que escolheu.
Com ela, vem toda uma forma de olhar, de estar
Ela contribui para o mundo dos seus amigos.
Com ela me emancipei.



uma descrição do que Andrea Lion é, para mim

indico seu blog, que mostra um pouco do seu mundo
http://cadernodadea.blogspot.com/
Sapateado é ritmo.
Pelo menos foi o que pude perceber hoje na aula de sapateado do Alexei. Entrar uma sala de aula com aquele assoalho lindo, uma sala ampla, com vestígios verdes chamados vulgarmente de plantas, foi muito gostoso. Ainda mais acompanhada por uma florzinha de cinco anos que anda captando o universo da mãe. Sou apaixonada por sapateado desde muito cedo, mas foi com a Catherine e o Alexei que pude ter acesso a esta paixão.
Sentei-me no banco, pedi uma folha em branco e escrevi uma poesia.
Cá entre nós, gostei. Da poesia , da aula, do momento que vivi e do que pude perceber.
Lembrei-me de John Cage, que acompanhou uma companhia de dança.
Maravilhoso.
Saí com uma lista de desejos: dança contemporânea, sapateado, piano, francês, pilates, poesia, teatro. Já a Sahyja veio me pedir o balé. Eu não curto, dizem que não faz muito bem em termos de postura, e esta de rosinha por tudo que é lado me lembra meninas românticas e sonhadoras. Não que eu não seja. Sou, e muito. Outro dia estava em casa, digo, em Jundiaí, me atracando na luta ao pó, livro por livro, na estante.
Quando encontrei o livro Pollyanna, e eu li Pollyanna e Pollyana moça, odiei com todas as forças o ou a autora do livro, nem me lembro quem era. Mas me lembro e sei o quanto este livro de ações boazinhas desgraçou minha vida, principalmente a adolescência. Tenho dúvidas também quanto a outro livro, que falava de um colégio onde tudo tinha horário e eu adorava, queria repetir em casa. Nada a ver. Cenas horríveis de minha vida.
Só de pensar, dói.
E não combina nada com os dias de hoje, ou melhor, comigo hoje.
Hoje na verdade eu acabo de queimar um resto de sopa na panela. Só hoje esquecoi o fogo ligado três vezes. Fora usar o saleiro como cinzeiro. Fora o fato de eu não fumar. Assomado à situação de eu detestar cigarro.
Falava de sapateado, o que é muito, muito melhor. De qualquer modo eu não trago. Reparei na articulação que C. tinha, a mesma que nos é requerida nos instrumentos. E a maneira que eles ensaiam é a mesma de um músico. Repete mil vezes , tem um puta rigor. O que me assustou um pouco foi a forma de não poder sorrir quando se erra, ou quando se acerta. Desde criança eu fui educada no violoncelo assim.
Hoje em dia acho isto tudo um porre, chato demais esta exigência até certo ponto benéfica.
Sem prazer, fica difícil viver.Acho que sou hedonista com culpa.

4.2.09

surtei total?

O poema mesmo que não entendam vem depois do curso com Ferreira Gullar (maravilhoso) depois de ele dizer que ALGUNS poetas jovens escrevem de maneira que não se entende nada. Ele disse tanta coisa, que é até injusto só postar isso, mas como o horário do cyber é restrito e como eu não trouxe o papel com as anotações, fico nesta de retrucar o que parece se encaixar bem.
È importante ouvir e ele não falou de mim, obviamente nem me conhece. Mas o que disse tem a ver, então, escrevi o poema.
Na verdade ainda escrevi mais coisa nesse papel vítima que se encontrava lá em casa.
Se uma imagem não se traduz como universo recíproco ou me abandono, ou mudo , ou me conformo. Qualquer opção me dá vontade de tacar fogo vermelho rouge ( que é outra forma de vermelho, na minha cabeça). Ou estou doente, ou creio no que escrevo(credo) ou tento me enganar. È uma dor violenta ter de lidar com este banho de imagens e ainda dar conta à imaginação dos outros. E ainda:
Importa encontrar, dar-se ao encontro. Palavra turva que raie só ,saia da tumba em que se vicia trôpega de labirintos.Sua amizade me tempera. Mas se para olhos vivos e saudáveis anula você a própria visita , parto as mãos,retire-me do seu caldo, da sua velocidade imprecisa, demita-me.
E tudo continua esquisito, eu uma lagartixa, cor nojenta de quem se desprega
.

mesmo que não entendam

a minha visão diz
de tatuagens sobre coqueirais
não sei
se porque os associo
ou porque é isso mesmo
o que quero dizer
eu vejo tatuagens em coqueirais
e o que quer que eu faça
ou diga,
que não isso,
me impedem dizer
o que digo
quando digo
isso
A primeira visita que recebo de manhã é a do meu humor.O resto do dia resulta do acordo que fiz entre ele e eu.Entusiasmo e disposição não raro exercito.Mau humor quando não me sinto livre, mesmo que esteja.