Som na caixa

31.3.09

C. Tarkos

Um poema de C. Tarkos

"Um beijo. Eles se beijam. Ele toma sua boca em sua boca, ela toma sua boca em sua boca, eles se beijam. Ele abre seus lábios à sua boca, à sua língua, ela abre seus lábios aos seus lábios, à sua boca, à sua língua, ela gira sua língua em sua boca, ele gira sua língua em sua boca, ele descobre seu beijo, ela descobre a sensação de seu beijo, sua língua doce em sua boca, sua língua doce contra sua língua, ele envolve sua língua em sua língua, ele a mistura, ela gira sua língua contra sua língua, eles se beijam, ela a mistura, ele se misturam, ela cede sua boca à sua boca, ele cede sua boca à sua boca, eles se dão um beijo, ela lhe dá um beijo e sua língua, ele acaricia sua língua em sua boca, ela acaricia sua língua em sua boca, ela o deixa entrar, ele a deixa entrar, eles se amam, sua língua está em sua boca, ela mete sua língua em sua boca, seus lábios estão colados contra seus lábios, ela acaricia sua língua contra sua língua que gira em sua boca contra sua língua, acaricia sua língua contra sua língua quente e oferecida, ele mete sua língua em sua boca, e então eles se amam, eles se beijam".




Tradução de Carlito Azevedo

este post e o anterior dedicados à pessoa com quem tenho feito um sexo maravilhoso

Ramiro Osório

SURF OUR SOULS

1.
se o querer fosse poder não seriam versos
mas surf


2.
o surf é mais


3.
se nada sei
a onda sabe

4.
qualquer palavra é imprópria
ao sabor da onda que sabe

5.
Baudelaire amaria o surf
ou então o mar é uma fotografia

6.
que tristeza se existisse o museu do surf
o bolor dos livros dos quadros dos filmes
os has-been

7.
se eu não gostasse de surf não seria eu
as estrelas cadentes e tudo que não é doméstico

8.
vou na onda
onde os pensamentos não se pensam

parágrafo único: deixar o semicúpio da ode marítima e ir
ao surf


6.1.71



SOS

1.
se o querer fosse poder já estava na praia grande
mas

2.
o surf é

3.
nada sei
ela sim


4.
contra ondas
não há palavras

5.
baudelaire amaria o surf uma ova
ele era un vieux chnok

6.
que tristeza o que fizeram do surf
um museu de cera com tristes foliões
executivos pinto-calçudos em calções

7.
graças ao surf parti a espinha
" vai e apanha uma estrela cadente"

8.
vou e apanho uma estrela cadente
deixo para os outros o mar de bidé

parágrafo único: inalterado

1.9.99


( este poema é distribuído muito bem pela página, num jogo de resposta e esta reprodução em blog não permitiu ser justa ao livro, mas nos ajuda a conhecer um poeta português super criativo e autêntico)

29.3.09

um pouco de terapia

as emoções básicas

amor
medo
raiva
vergonha
alegria
tristeza
nojo( repulsa)
surpresa


os compulsores

seja perfeito
seja forte
seja apressado
seja esforçado
agrade sempre

todos os compulsores ouvem desqualificações
o seja forte ouve: você é fraco. Se mostrar emoção se fragilizará
o seja perfeito ouve: não sou capaz
o seja apressado ouve: não vai dar tempo

precisamos de

reciprocidade
solidariedade
instinto




olhar com ternura
sorriso
contato corporal recíproco
sintonia
capacidade de dar
capacidade de receber
comunicação dialógica
solidariedade
intimidade
capacidade de vinculação indicriminada

na sociedade atual vivenciamos o excesso de repressão, a domesticação dos instintos, o individualismo, a falta de responsabilidade afetiva ( a desconexão afetiva)
quem foi que falou à ele que ela estaria disposta e porquê misturar gergelim ao salmão.isto era uma sentença dura e ademais não era para ser nada disso.porque ele se controlava tanto e não dispunha de talento.
também falava pouco e isso a indispunha e mesmo ter gastrites ou convulsões devia ser a companhia. por andar devagar e não acompanhá-la nas situações prejudicadas.é como se outras histórias pudessem torná-la ilesa. mas agora era um mal de dias e dias sem folga, uma espécie de popularização de males. ela tinha certeza,um obrigado pode ser falso.

me mandaram isso lá de Portugal

Do Arquivo Nacional da Torre do Tombo

SENTENÇA PROFERIDA EM 1487 NO PROCESSO CONTRA O PRIOR DE TRANCOSO·

(Autos arquivados na Torre do Tombo, Armário 5, Maço7)

"Padre Francisco da Costa, prior de Trancoso, de idade de sessenta e dois anos, será degredado de suas ordens e arrastado pelas ruas públicas nos rabos dos cavalos, esquartejado o seu corpo e postos os quartos, cabeça e mãos em diferentes distritos, pelo crime que foi arguido e que ele mesmo não contrariou, sendo acusado de ter dormido com vinte e nove afilhadas e tendo delas noventa e sete filhas e trinta e sete filhos; de cinco irmãs teve dezoito filhas; de nove comadres trinta e oito filhos e dezoito filhas; de sete amas teve vinte e nove filhos e cinco filhas; de duas escravas teve vinte e um filhos e sete filhas; dormiu com uma tia, chamada Ana da Cunha, de quem teve três filhas, da própria mãe teve dois filhos.
Total:duzentos e noventa e nove filhos, sendo duzentos e catorze do sexo feminino e oitenta e cinco do sexo masculino, tendo concebido em cinquenta e três mulheres".

[agora vem o melhor:]

"El-Rei D. João II lhe perdoou a morte e o mandou pôr em liberdade aos dezassete dias do mês de Março de 1487, com o fundamento de ajudar a povoar aquela região da Beira Alta, tão despovoada ao tempo, e mandou arquivar os papéis da condenação."



(retirado do expresso.pt)

27.3.09

SARAU DE POESIA E DANÇA- CONVITE

Hoje estarei no Centro de Movimento Debora Colker, num sarau em que bailarinos apresentarão coreografias inspiradas em poesias.
Estou muitíssimo feliz, porque é a realização de um sonho.
Ensaiamos esta semana, eu no cello tocando a Allemande da Suite 2 para violoncelo solo, de Bach, e duas meninas dançando a coreografia de um poema meu que elas escolheram. È um poema que fiz ano passado, no escuro do Theatro Municipal, enquanto assistia ao espetáculo do Grupo Corpo. Fico também muito feliz porque os bailarinos gostaram desta poesia que fala de dança, e eu não sabia se tinha a ver o que eu tinha escrito ou não.
As meninas estarão com pedaços da poesia escritos no corpo todo. Achei isso lindíssimo.Bonito, né?
A outra poesia que escolheram chama-se Flor.
Susana Vargas estará falando os 2 poemas.
Outros poetas estarão por lá, mas infelizmente ainda não sei quem serão. Sei que terá uma poesia de Antonin Artaud.
Sei também que pessoas queridas estrão lá para assistir e me dar uma força.
Quem puder comparecer, é`as 20 horas, e custa 2 reais.



CENTRO DE MOVIMENTO DEBORAH COLKER
Rua Benjamin Constant, 30 - Glória
Rio de Janeiro
tel.: 2221 1309 / 2221 2034

ps: clique na imagem para aumentar



19.3.09

Um registro de alguns pensamentos que me ocorrem enquanto ensaio em orquestra

- Qual a lugar do arco melhor para este tipo de staccato? -Qual o melhor tipo de staccato para esta música? - Qual dedilhado facilita a execução dessa passagem? - o piano, para que soe bem, deve ser com qual quantidade de arco? - Em que lugar da corda?
- Estou realmente antecipando como quero, o arco na mudança de corda? - Como faço para esse glissando não aparecer? - Qual tipo de vibrato fica bem nesta nota?
- Sforzando, esforço, começa e depois acelera? -O que T. me falou sobre acentos? - - Existem outras formas de dividir o arco, que não a tradicional ponta -talão. Nas orquestras,tocam quase exclusivamente no talão.- Eles não distribuem bem o arco.-Para onde vai essa frase?
- A postura da coluna e a postura do peito em relação ao queixo - Pés no chão - hmm, está mais articulado -Não queria acentuar esta nota na corda lá.- Como minha corda está velha.- Tercinas, arco para cima, arco para baixo, preciso estudar- Com 20 anos, eu tirava isto de letra - Não tem problema, você estuda que sai- O maestro não vai falar da desafinação desses primeiros acordes? Tá doendo o meu ouvido !
- no solo dos cellos, vou usar o capotastro, porque evito mais mudanças de posição - o re# com o segundo dedo, na corda re, com o si na corda lá, estudar em corda dupla, com a nota anterior- com relação ao 3/8, vou estudar em ritmos alternados.- e eles pensam que eu não tô nem aí...

16.3.09

meu sonho é entender esta linguagem musical

com vocês, monsieur Ricardo Domeneck

Poemas carregam implicações e, assim, exigem que o leitor trabalhe

O que ocorre é que muitas vezes as pessoas não percebem que o trabalho com a oralidade requer o mesmo rigor e estudo que o trabalho com a escrita.


Ricardo Domeneck






Não sei se deveria botar mais uma vez a público minha admiração por Domeneck,
porque já está mais que assumida.Pode parecer repeteco, mas não é repeteco. È fato.
Quando o conheci, ou melhor, quando li seu livro, confesso que, à primeira vez - o que já inclui releituras - não entendi sua poesia. Foi aos poucos que passei a poder entranhar aquele mapa, carregado de discursos interessantes. Ricardo é um poeta que não só maneja a linguagem, como ele mesmo se propõe. Abre o peito e diz: estou aqui.
Encontro em Domeneck uma força pulsante,pensadora, criante.

Livros que nos acompanham são livros que amamos ou então, sobre os quais pensamos, ou as duas coisas. O dele( carta aos anfíbios ou a cadela sem logos, são 2)é um dos que se habitua à minha bolsa, como equipamento vivo para resistir aos confrontos da cidade.
Como percebo em Ricardo, através do que li em alguns de seus poemas, me apaixono intensamente e me esgoto de amor até cair, até rasgar, e aí me reinicio.
Sou capaz, como já fiz, de me validar através de algum poema seu que fale de amor como eu vivo.


http://www.revistamododeusar.blogspot.com/
http://ricardo-domeneck.blogspot.com/
http://www.germinaliteratura.com.br/rdomeneck.htm


Além de poeta, Ricardo é tradutor, ensaísta, professor e DJ.

Só posso dizer que considero seu blog, assim como o blog mododeusar&co. do qual ele participa, atuante, um blog onde me choco, extasio, conheço e principalmente um blog onde questões EFETIVAS, fundamentais, se apresentam.

Mesmo que eu, infelizmente, não goste de ler na tela do computador. Infelizmente, tenho um computador péssimo, que só de me ouvir reclamando pode falhar, agora mesmo (espero que não aconteça). Tenho caixas de som que, derrubadas, morreram.
Com isso não aproveito tudo o que quero no que leio na internet.



Aí, Domeneck, você é o grande incentivador para que eu faça um upgrade no computador

Quero te ouvir! Fale.

13.3.09

À um jovem carta escrita por Carlos Drummond de Andrade

Prezado Alípio:

Ontem à noite, ao sair você de nosso apartamento, aonde fôra em busca de sabedoria grega e só encontrou um conhaque e um gato por nome Crispim, assentei de reduzir a escrito o que lhe dissera. Aula de ceticismo? Não. Ele se aprende sozinho. A única coisa que se pode remotamente concluir do que conversamos é que não vale a pena praticar a literatura, se ela contribui para agravar a falta de caridade que trazemos do berço.
Por isso, e porque não adiantaria, não lhe dou conselhos. Dou-lhe anticonselhos, meu filho. E se o chamo de filho, perdoe: é balda de gente madura.Poderia chamar-lhe irmão, de tal maneira somos semelhantes,sem embargo do tempo e do pormenor físico:cultivamos amobos o real ilusório, que é um bem e um mal para a alma. Pouco resta fazer quando não nascemos para os negócios nem para a política nem para o mister guerreiro. Nosso negócio é a contemplação da nuvem. Que pelo menos ele não nos torne demasiado antipáticos aos olhos de coetâneos absorvidos por ocupações mais seculares. Recolha pois estes apontamentos, Alípio, e saiba que o estimo:

I- Só escreva quando de todo não puder deixar de fazê-lo. E sempre se pode deixar.

II- Ao escrever,não pense que vai arrombar as portas do mistério do mundo. Não arrombará nada.Os melhores escritores conseguem apenas reforçá-lo, e não exija de si tamanha proeza.

III- Se ficar indeciso entre dois adjetivos, jogue fora ambos, use o substantivo.

IV- Não acredite em originalidade, é claro. Mas não vá acreditar tampouco na banalidade, que é a originalidade de todo mundo.

V- Leia muito e esqueça o mais que puder.

VI- Anote as idéias que lhe vierem na rua, para evitar desenvolvê-las. O acaso é mau conselheiro.

VII- Não fique baboso se lhe disserem que seu novo livro é melhor do que o anterior. Quer dizer que o anterior não era bom.

VIII- Mas se disserem que seu novo livro é pior do que o anterior, pode ser que falem a verdade.

IX- Não responda a ataques de quem não tem categoria literária: seria pregar rabo em nambu. E se o atacante tiver categoria, não ataca, pois tem mais o que fazer.

X- Acha que sua infância foi maravilhosa e merece ser lembrada a todo momento em seus escritos? Seus companheiros de infância aí estão, e têm opinião diversa.

XI- Não cumprimente com humildade o escritor glorioso, nem o escritor obscuro com soberba.Às vezes nenhum deles vale nada, e na dúvida o melhor é ser atencioso para com o próximo, ainda que se trate de um escritor.

XII- O porteiro do seu edifício provavelmente ignora a existência, no imóvel, de um escritor excepcional. Não julgue por isso que todos os assalariados modestos sejam insensíveis à literatura, nem que haja obrigatoriamente escritores excepcionais em todos os andares.

XIII- Não tire cópias de suas cartas,pensando no futuro. O fogo, a umidade e as traças podem inutilizar sua cautela.È mais simples confiar na falta de método desses três críticos literários.

II

Mando-lhe aqui, jovem Alípio, outras drágeas de suposta sabedoria, completando assim a instrução que ministrei.

XIV- Procure fazer com que seu talento não melindre o de seus companheiros.Todos tem direito à presunção de genialidade exclusiva.

XV- Faça fichas de leitura.As papelarias apreciam esse hábito. As fichas absorverão o seu excesso de vitalidade e, não usadas, são inofensivas.

XVI- Se sentir propensão para o gang literário, instale-se no seio de sua geração e ataque. Não há polícia para esse gênero de atividade. O castigo são os companheiros e depois o tédio.

XVII- Não se julgue mais honesto que seu amigo porque soube identificar um elogio falso, e ele não. Talvez você seja apenas mais duro de coração.

XVIII- Evite disputar prêmios literários. O pior que pode acontecer é você ganha-los, conferidos por juízes que o seu senso crítico jamais premiaria.

XIX- Sua vaidade assume formas tão sutis que chega a confundir-se com modéstia. Faça um teste: proceda conscientemente como vaidoso, e verá como se sente à vontade.

XX- Seja mais tolerante com o cabotinismo de seu amigo; quase sempre esconde uma deficiência, e só impressiona a outros cabotinos.


XXI- Quanto ao seu próprio cabotinismo, ele esfriará se você observar que, na hipótese mais cristã, é objeto de tolerância alheia.

XXII- Antes de reproduzir na orelha de seu livro a opinião do confrade, pense, primeiro, que ele não autorizou a divulgação; segundo, que a opinião pode ser mera cortesia; terceiro, que você não admira tanto assim o confrade.


XXIII- Procure ser justo com os outros; se for muito difícil,bondoso; na pior eventualidade,omisso.

XXIV- Opinião duradoura é a que se mantém válida por três meses. Não exija mais coerência dos outros nem se sinta obrigado intelectualmente a tanto.

XXV- Procure não mentir, a não ser nos casos indicados pela polidez ou pela misericórdia. È arte que exige grande refinamento, e você será apanhado daqui a dez anos, se ficar famoso; e se não ficar, não terá valido a pena.

XXVI- Deixe-se fotografar à vontade, sem chamar os fotógrafos; não recuse autógrafos mas não se mortifique se não os pedirem. Homero não deixou cartas nem retratos, Baudelaire deixou uns e outros. O essencial se passa com outros pápeis.

XXVII- Você tem um diário para explicar-se: é assim tão emaranhado? Para justificar-se no futuro:julga-se tão extraordinário?

XXVIII- Trate as corporações com cortesia, pois poderá vir a ingressar numa; com indiferença, pois o mais provável é não ingressar nunca.

XXIX- Aplique-se a não sofrer com o êxito de seu companheiro,admitindo embora que ele sofra com o de você.Por egoísmo,poupe-se qualquer espécie de sofrimento.

XXX- Boa composição moral é a de orgulho e humildade; esta nos absolve de nossas fraquezas, aquele nos impede de cair em outras. Quanto aos santos-escritores, é de supor que foram canonizados apesar da condição literária.

XXXI-Seja discreto.È tão mais cômodo!
O colunista Sydney Harris conta uma estória em que acompanhava um amigo à banca de jornais. O amigo cumprimentou o jornaleiro amavelmente, mas como retorno recebeu um tratamento rude e grosseiro. Pegando o jornal que foi atirado em sua direção, o amigo de Harris sorriu polidamente e desejou um bom fim de semana ao jornaleiro.
Quando os dois amigos desciam pela rua, o colunista perguntou:
- Ele sempre te trata com tanta grosseria?
- Sim, infelizmente é sempre assim...
- E você é sempre tão polido e amigável com ele?
- Sim, sou.
- Por que você é tão educado, já que ele é tão inamistoso com você?
- Porque não quero que ele decida como eu devo agir.

12.3.09

O que há na sua mão de
diferente e que possa
ser contado e que
interesse e
de algum modo exista?


O que há em sua mão
que tenha luz própria ou
não

O que há na sua mão
de diferente,
que cause horror
ou abandono;
que danifique
o pano como um
centro corrosivo,


até que

chame a atenção,
o corpo
voltado para a mão, ei
ela pula, ela está viva.
Toma. E dá-lhe sangue!

Peça Coração Heiner Muller

Um- Posso pôr meu coração a seus pés.
Dois- Se não sujar meu chão.
Um- Meu coração é limpo.
Dois-È o que veremos.
Um- Eu não consigo tirar.
Dois- Você quer que eu ajude?
Um- Se não incomodar.
Dois- È um prazer para mim. Eu também não consigo tirar.
Um-(Chora)
Dois- Vou operar e tirar para você. Para quê que eu tenho um canivete. Vamos dar um jeito já. Trabalhar e não desesperar. Pronto... aqui está. Mas isto é um tijolo. Seu coração é um tijolo.
Um-Mas ele bate por você.

( tradução de Marcos Renaux)

eu sou fã







Esta era a primeira aula do dia, e era com Léa Freire. Pessoa que ao longo do curso mais admirava.
Nestas fotos, estávamos fazendo o exercício dos semitons e tons.A aula começava com um alongamento, seguido de uma escala com semitons. Depois tínhamos muitas vezes que segurar, por exemplo, o dó, aí a pessoa ao lado segurava o si, e outro o lá#, de forma que escutávamos todas as notas ao mesmo tempo.
Outro exercício que me lembro era assim: você canta o lá. Aí ela diz, uma segunda, e eu canto o sol, ou o si.
Era mais ou menos assim, se não me falha a memória ( que eu sinto que falha)
Depois fazíamos uma roda, com um grupo de três, ou mais, fazendo um ritmo na voz, outros três, por exemplo, fazedo outro ritmo e outra nota, e outros três, a mesma coisa.
Aí ela puxava alguém da roda para o centro, e ficava improvisando com esta pessoa. Depois ía outra pessoa, e improvisavam os dois, ou com ela, os três. Enquanto isso, o som das pessoas da roda continuava rolando.
A Léa disse-nos que é um absurdo o nosso sistema de escala diatônico ser o único, praticamente, ensinado.
Somou mais de 220 tipos de escalas possíveis, e nós estudando no máximo tom, tom, semitom, tom, tom, tom, semitom, e as relativas.
Por ser inteligente, como é, e muito, sugeriu que tudo se baseasse no semitom, assim , mesmo que não se saibam as 220 e tantas escalas, passa-se por elas, mesmo sem nomeá-las.
O que é um tom? São dois semitons.
Com certeza a melhor aula que tive. Saí de lá com um ouvido apurado, tocando as músicas e já ouvindo os intervalos( isto em uma semana apenas)
Léa é compositora, flautista e toca um super piano, cheio daqueles ritmos dificílimos de se tocar.

11.3.09

no meio erudito

Foram 45 minutos muito bons!
Estou começando a gostar da palavra estudo também porque
tu és tudo de bom, és tudo coração, és tudo amor, és
tudo que me inspira, és tudo para mim.
Obrigado pela tua amizade, te adoro

Obrigada, eu também adorei entrar em contato com o que me faz bem.
Aliás, você me faz bem ! Também.
Estou feliz por não depender de nada, por DESFRUTAR o violoncelo e por você fazer o mesmo.

Nada como acordar nestes dias de sol e tocar um do ré mi.
Fico pensando na oportunidade que não é conhecer as obras de grandes mestres e poder inclusive ter a senha, poder raciocinar sobre os pensamentos musicais que eles tiveram.

Quais seriam seus pensamentos enquanto compunham? Já imaginou a ordem de cores, texturas, timbres, esta genialidade de Mozart, Beethoven e meu querido Bach?

Por que pensar nas pessoas que nos desvalorizam, de acordo com seus próprios interesses?

Se vejo alguém com talento, não desprezo. Fico feliz por seu progresso.
Sabemos ambos de nosso talento, que mais importa?


Arrogância é se sobrepôr a outros. E esta educação católica,junto com o já falado livro Pollyanna,só me fez foi estar sob o julgo dos COM PODER.

Não interessa quem faz o que e o que toca, neste momento de nossas vidas, interessa permitirmos receber, deixar a música ressoar em nossa caixa craniana.
Sou a favor de abolirmos este pais internos, essa crítica, este devaneio e fantasmas

Sou a favor da libertação da música pela música.

Como forma de saúde psicológica, pelo menos, neste caso nosso de hoje.
TE AMO, mas isso vocÊ já sabe.


.....................................................................................

Meu amigo e eu sofremos do talento invejado querem surrupiar nossa identidade de músicos sensitíveis para decretar a massificação da música e a suposta ordem dos fatos.
Não que sejamos o ó do borogodó, mas que sejamos bons, por natureza e bom gosto.
Fazer o quê? NÃO VEIO DO NADA. PROVAVELMENTE VEIO DE NOSSA EDUCAÇÃO ENQUANTO ENFANTS. De nossas concepções artísticas. De tudo que devoramos. E da forma de estudar.
Ambos, no entanto , estávamos inaptos para admitir nosso amor pela música, dentro do sistema.
Tempos acreditamos nos que regem às pessoas - os hipócritas.
O golpe mais baixo que se dá neste caso é você estudar para caramba.
Muitos babam, de raiva, inveja e outra atrocidades.
A ideia deles é esta: eliminar o oponente.

Sou mais a favor de derrubar um só, em pé.


We always must prepare, react, talk, fight, be nervous, practise, play like we don`t want...

Um dia dei um pulo até Portugal e me atualizei.
Esse povo daqui toca mal e se acha. E os outros acabam que acreditam. È mais uma questão de ego, de postura que de interpetação.
Ai, os violinistas, então, como competem.
Chegam a fazer os famosos corredores nos cursos de férias, um tocando um concerto mais difícil que o outro, de qualquer jeito.
Eu mesma tinha a idéia angelical de que uma pessoa que toca bem seu instrumento é um ser superior.
haha
Tenho refletido sobre a forma que nos é ensinada o estudo, no meio erudito.
Falta consciência do que é interpretar.
Uma vez o melhor violoncelista que vi ao vivo, um alemão , me disse:
não vista os sapatos que não são seus.
quando acharam( maestro) que o erro estaria nos cellos, e eu era spalla.
Quanto mais leio as palavras deste alemão, mais o acho coeso, maduro e inteligente
Eu acho que nesta discussão toda o mais relevante seja pensar a música como vivenciá-la.
O que é desfrutar o estudo?

Mas não deixa de ser importante clarear nossa visão . Para que não tombemos, á toa.

quer andar de carro velho, amor?





que nada, este fusquinha tava um barato, com músicas da seleção: o fino do brega
e o meu cello estava lá, só curtindo estar no case

uma poesia de Helberto Helder

Um poema cresce inseguramente
na confusão da carne.
Sobe ainda sem palavras, só ferocidade e gosto,
talvez como sangue
ou sombra de sangue pelos canais do ser.

Fora existe o mundo. Fora, a esplêndida violência
ou os bagos de uva de onde nascem
as raízes minúsculas do sol.
Fora, os corpos genuínos e inalteráveis
do nosso amor,
rios, a grande paz exterior das coisas
folhas dormindo o silêncio
- a hora teatral da posse.

E o poema cresce tomando tudo em seu regaço.

E já nenhum poder destrói o poema.
Insustentável, único,
invade as casas deitadas nas noites
e as luzes e as trevas em volta da mesa
e a força sustida das coisas
e a redonda e livre harmonia do mundo.
- Em baixo o instrumento perplexo ignora
a espinha do mistério.

- E o poema faz-se contra a carne e o espaço.

10.3.09

eu, é.

O que não gosto no cigarro: os grampos que vêm até sua boca, logo assim que a fumaça se depara com a ponta da língua. A fumaça que sobe até a retina, deixando quente todo esse percurso de rosto. O gosto ácido de quem invade. O cheiro que martela suas mãos, e que se petrifica na falange entre indicador e segundo dedo.
As cinzas que soçobram no chão, ou no vidro. A capacidade de penetrar, perpetrar-se.
O que não gosto no cigarro: sua estética e sua forma escandalosa de decompor-se.
Cigarro é , para mim, resto de pai e mãe (que libertaram o cigarro de os ajudarem)
Uum pequeno incêndio que não trago.
Uma ogerize calculada.
Uma bituca de cigarro, um cigarro molhado na torneira da pia sendo os pontos ápices dessa estética.

9.3.09

uma definição muito boa de sucesso, que passou num canal infantil:
sucesso é quando você faz o que sabe fazer, mas todo mundo reconhece.

6.3.09

sobre o filme Poeta de sete faces

A manhã conturbada de hoje. minha garganta dói, como uma lâmpada que se esfria. os gritos não nasceram para ela.
A tortura se desvanecendo, no almoço. Faço compras. Recolho o tom do algoz.


Uma manhã, reflexo de outras. Sahyja vai para a escola, abro o email, me deparo com palavras, que, especialmente hoje, falam-me que alguma coisa vale a pena, vindo, o email, de quem vem

nossa lele....gostei muito da poesia. estava precisando de algo assim e nem sabia.ver que um momento seu como descreveu...em que esqueceu o chá no fogo...pôde se tornar esta poesia...é gratificante.te amoooo!!! Isabelle


Trata-se de uma poesia que escrevi ontem, depois de ver o filme " Poeta de sete faces", de Paulo Thiago. Filme que não gostei, mas que traz algumas cenas bastante bonitas.
Gostei de ouvir os poemas musicados por Villa-Lobos. Gostei da iniciativa
(fundamental) de se documentar Drummond.
Paulo Autran, Othon Bastos e Antonio Calloni declamam Drummond com identidade. Duas atrizes acabam com A máquina do mundo
Carlos Gregório, na entrevista em que imita o poeta, foi um caos, por não ter se preocupado com o ritmo da fala de Drummond.
E as colagens, subir e descer de escadas, em que depois do ator aparecia o verdadeiro Drummond, sinto muito, diretor, são bregas.
Mas pode ser que eu esteja sendo injusta, porque fiquei marcada pelo filme. Só não sei se foi por causa do filme, ou por causa dos poemas do poeta.
Acho que muito mais pelo segundo.

O filme, com seus altos e baixos, respeita a obra de Drummond. Tem seus méritos. Agora , o que foi Adélia Prado naquele filme?
Acabou com a poesia de Drummond. Me deu vontade de falar à ela: minha filha, procura uma terapia, sai mais de casa, faz o que quiser, mas chorar daquele jeito, declamar uma poesia como vc fez?
E achar que é homenagem?
E depois falar de poesia como se fosse benção e tal. Que mistura estranha.

Peço desculpa aos que lêem, por não estar com o filme em mãos e não poder citar exatamente as palavras que Adélia disse.

Enfim, a poesia que fiz, sobre a qual matutei à tarde e à noite, e não sei se está bem resolvida, veio depois da permissão que senti através das palavras de Drummond, falando sobre velhice e tal, sei lá, sua voz ( que logicamente eu acho bonita) e toda a emoção que é rever sua figura






Poeta de Sete Faces

Gênero: Documentário
Origem/Ano: BRA/2002
Duração: 94 min

Direção: Paulo Thiago

Sinopse: O documentário tem como linha mestra retratar a trajetória humana do poeta, ao mesmo tempo em que investiga, documenta e interpreta os diversos momentos de sua obra. O objetivo é transcender ao mero registro dos fatos da vida, mas mostrar como estes se mesclam nas transformações dos diversos rumos que tomam sua poesia: trata-se portanto de um "documentário poético", onde o espírito, o clima e a emoção da arte drummondiana estão sempre presentes, definindo o texto, a imagem, a música, a montagem e o desenvolvimento dramático do filme.

Dois narradores acompanham a ação:

1) o Narrador-Documental que fornece as informações fatuais da vida, as observações dos críticos e ensaístas, o plano da razão.

2) o Narrador-Poeta que recita versos, indica poemas, declama crônicas, em suma traz o texto emotivo, a poesia drummondiana, o plano da emoção.

O documentário divide-se em três etapas que correspondem às fases distintas da obra de Carlos Drummond de Andrade e caracterizam momentos de sua vida. A primeira FASE, que chamamos "Vai Carlos, ser gauche na vida", registra do seu nascimento em Itabira em 1902 até o final da sua "Poesia Modernista" em Belo Horizonte, antes da mudança para o Rio de Janeiro em 1934. Sua poesia com a marca do modernismo de 1922 numa versão mineira. A publicação dos primeiros livros "Alguma Poesia" e "Brejo das Almas", quando nasce o Carlos Drummond de Andrade dos versos anedóticos, sintéticos-metafóricos, irônicos.

A segunda FASE cognominada "A vida apenas, sem mistificação", começa com a mudança de Drummond para o Rio de Janeiro e vai mostrar o "poeta do seu tempo", o momento de atuação política na vida do escritor, aliada a sua obra de crítica social.

A terceira FASE,chamada "Como ficou chato ser moderno, agora serei eterno" , do início dos anos 50 aos anos 80 , a fase do poeta-filósofo, do verso enigmático, do cronista de sucesso no Correio da Manhã e no Jornal do Brasil, da glória literária sendo Drummond considerado um mestre da língua, dos prêmios homenagens e troféus, dos filmes adaptados de sua obra, dos netos que nascem e a família se prolonga e do retorno aos temas do passado e da memória, Itabira que renasce nas páginas de livros como "Boitempo", "O Menino Antigo" e o post-mortem "Farewell".

5.3.09

a louca, o caminho e os galos

Ontem à noite, escrevi duas coisas totalmente distintas em questão de minutos. Enquanto me lembrava do caminho entre o refeitório e a sala de estudo, em Castelo Branco, ouvia a voz da louca e dos galos, no Morro Azul.
Ambos os textos não valem à pena. Fazem parte de uma experiência.
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Agora escrevendo vejo que excluí os galos, para me concentrar na louca. Ironicamente, ambos me enlouquecem, em vários dias. Eu não os tinha visto era juntos. Penso que isso poderá ou poderia dar pano para a manga. Analisando friamente, tirar os galos da jogada empobrece o texto.
Mas hoje é dia, e estou em outra.
as palavras têm tempo
me bateu esta curiosidade: quanto tempo um poema permanece em você?