Som na caixa

30.4.09

NATUREZA

Estou em meio à Mata Atlântica. Num lugar lindíssimo, onde as estrelas se vêem mais.Perto de pessoas(considerando que a Vênus seja uma pessoa que parece um cachorro) com quem quero estar. Se existe plenitude alcançável para mim, estar ao lado de alguém com quem me sinta muito bem , já é pleno. estar com quem me convida a ser livre, e que me traz um monte de novidades, no meio da beleza imagética da natureza, melhor.
Encontro alguém em quem confio, não apenas para falar das coisas que penso mas para ser quem sou. No imo. No centro.
Por aqui, lagartixas, sapo-boi, bicho-pau, cachorros, grilos, cobras.
Cachoeira, rio. Banho de banheira com luzes. O barulho da água caindo. Àgua que se bebe direto da torneira, vinda do poço.
Cachos, carinho e formas de se comunicar e conhecer.
Quando levo algum susto no encontro com os bichos, reconheço minha ausência como ser humano, em meio ao planeta. O quanto se perde nas cidades.
Sinto-me confortada, pelo retorno dos sons, das horas(que aqui passam mais lentas),do contato que posso presenciar entre os reinos dos quais faço parte.
SE HERBERTO DESSE A MÃO A ADÍLIA” – CONFERÊNCIA

Luis Maffei, professor da Universidade Federal Fluminense e poeta, concluiu a sua tese de doutoramento sobre a obra de Herberto Helder em 2007. Raquel Menezes, mestranda na Universidade Federal do Rio de Janeiro e editora da revista Pequena Morte, prepara actualmente a dissertação de mestrado sobre a poesia de Adília Lopes. “Se Herberto Desse a Mão a Adília” é uma comunicação a duas vozes que pretende pôr dois poetas a conversar a partir da diferença, mas também rumo ao encontro de afinidades talvez surpreendentes.


Dia 4 de Maio pelas 18h30 na Casa Fernando Pessoa.

27.4.09

Academia de Ginástica Poética

Estou fazendo um curso aos sábados chamado Academia de Ginástica Poética: exercícios para a menina dos olhos com Luiz Raul Machado. Estou gostando bastante das coisas que ele e os colegas trazem para a aula. Na última aula fizemos uma brincadeira, cujo resultado é:

Bitatinha curioso atrevido e burrinho, contando estrelas, vamos roer canela? Na caverna catando os gatos um tubarão sonolenta e confusa fada madrinha em baderna geral

A partir dessa loucura toda, tenho que escrever um texto, uma poesia, o que for. Está claro que terei trabalho.

Depois de lermos vários haikus, nos foi proposto escrever 2 ou 3. Nunca fui apaixonada por haikus, mesmo sabendo que se trata do máximo de expressão em um mínimo de palavras.
Mas sei que muita gente ama !


Dos falados em aula, gostei destes:


desenhada sobre o cavalo
minha sombra aparece
congelada



Bashô

Na poça da rua
O vira-lata
Lambe a lua




O veludo
Tem perfume
Mudo



Fiquei bom da vista
Depressa
Um oculista



Millôr


Depois de feitos, posto os meus por aqui.


Na mesma aula, Raul leu Manoel de Barros, e nos sugeriu fazer uma carta, ou poema ou o que for, para Manoel. Algumas frases que anotei durante a leitura:

Tenho preguiça de ser sério.

No osso da fala dos loucos, há lírios.

Vi um incêndio de girassóis na alma de uma lesma.

Papagaio quando anda de lado, examina.

Tudo o que não invento , é falso.

As coisas que não levam à nada, têm grande importância.


Manoel de Barros

26.4.09

Uma das frases mais legais que ouvi, foi direcionada a mim:


-Deixa de ser mulher

Em mais conversas, ouvi:


- Deixa de ser homem


E eu com ele estamos treinando todo o alfabeto.

CHI, o chá que eu adoro

O chi tem uma coisa assim , de deixar sem sono o meio da noite.
Tem um pouco o embalar do fogo, que aceso, recende a condimentos.
O chi tem um pouco do pouco que tive, porque de lá ele veio.
Não da India de filmes e pobreza, mas da India que não cruzei
Em viagem do sabor, escuto apenas eu mesma colocada em retângulos.
Chi de sensações, o retorno é você queimar quando espera pelo chá.

Queime com erva cidreira e hortelã.

poesia renascentista

À Boa Teta

Teta nova, mais branca que ovo,
teta de cetim branco novo,
teta que faz a rosa corar,
teta de beleza sem par,
teta firme, não teta, enfim,
pequena esfera de marfim,
no meio da qual se fareja
uã framboesa ou uã cereja,
que ninguém vê, tampouco toca,
mas assim é descrita em doce fofoca.


Teta, pois, de pontinha vermelha,
teta que sempre imóvel semelha,
no ir e vir de seu caminhar,
ou para correr, ou para bailar.
Teta esquerda, teta sozinha,
teta separada da sua irmãzinha,
teta que é grande homenagem
para o resto da personagem.
Teta, que desperta em moço e ancião
um grão desejo lá dentro da mão:
de te provar, de te possuir.


Mas é preciso refrear o sentir,
o achegar-se, assim tem que ser,
senão outras vontades verás florescer.
Ò teta nem grande nem pequena,
apetitosa, desenhada á bico- de -pena,
teta que noite e dia implora:
" Casa-me, casa-me agora! "
Felizardo, eis como se chamará
aquele que de leite te encherá,
fazendo de teta de donzela
teta de mulher inteira e bela.





Poema cortesão feito por Clément Marot (1496-1544) e musicado por Clément Janequin( 1485-1558), considerado um dos maiores mestres da polifonia renascentista. Tradução de Andityas Soares de Moura

19.4.09

as três primeiras poesias da Sahyja

A menina não enxuga

Não enxuga, não enxuga
Por que precisa enxugar?
O que precisa enxugar?
O gato, o sapato, o chinelo?
O mundo toda hora precisa enxugar.
Eu não gosto de enxugar
Mas eu gosto de molhar.



Pato Pato-lé

O pato andava no pátio.
O sapato do pato Pato-lé era o pé -de- pato.
O pato fala Qué-qué.
Por que o mar é tão alto?
E o pato Pato-lé continua patolado.
O pato pato-lé tem um sapato que faz splash.



Alice Marcos

Alice Marcos vai à uma festa.
Nesta festa todas as meninas estavam de laço.
Eu quase fui de laço.
Meu laço não ficou tão bonito.
Ajeita aqui, ajeita ali
Esta festa é de laço.
Mas o bolo é feito de laço?
Âh? Que estranho.





19/04/2009

helo e tia fina

16.4.09

Volta

Volta outras vezes e domina-me,
frêmito amado, volta outras vezes e domina-me -
quando a memória do corpo despertar,
quando ao sangue retornar o desejo de outrora
e os lábios e a pele lembrarem e as mãos
sentirem-se como que tocadas de novo.


Volta outras vezes e domina-me, quando a noite
fizer com que os lábios e a pele se lembrem.



poesia de Kaváfis
tradução: José Paulo Paes

Orestes

Os teus cabelos de aipo, perfumados,
solta para mostrar tua beleza
e expulsa a obrigação da mente presa
às palavras do oráculo afamado.

Não há outra maneira. De bom grado
sorri. Às portas de Argos, como vês, a
via fatal te trouxe. Tua empresa:
rasgar o ventre onde foste gerado.

Ninguém te lembra aqui. Portanto esquece
quem és, e à encruzilhada comparece
da áurea cidade. Ali hás de fazer,


como se um outro fosses, teu dever.
Que importa? Vão contigo, aonde fores,
o sangue de tua mãe e teus próprios horrores




poesia de Varnális
tradução: José Paulo Paes

cello & jazz

Luiz Orlando Carneiro - Violoncelo dedilhado




Atribui-se a Rachmaninov (1873-1943) a frase que diz que "o piano deve gemer como um violoncelo" – o instrumento do qual se tira, com o arco, o som considerado pelos musicólogos como o mais semelhante à voz humana. No jazz, de acordo com a pertinente observação de J. E Berendt (The Jazz book, 1981), há o paradoxo de que, se esse modo de expressão basicamente instrumental originou-se da música vocal, o canto no jazz é sempre menos comercial quanto mais simula a improvisação instrumental (scat singing).

Harry Babasin (1921-1988) é tido como o introdutor do violoncelo no jazz, e pode ser ouvido em reedições de LPs da década de 50, tocando-o como se fosse um contrabaixo, em pizzicato, com o pianista Dodo Marmarosa, o guitarrista Laurindo de Almeida e outros West Coasters. O grande Oscar Pettiford (1922-60) quebrou um braço quando jogava beisebol, em 1949. No processo de recuperação, teve de trocar o baixo pelo violoncelo, e um dos últimos discos que gravou foi My little cello. Fred Katz foi o primeiro a empregar o instrumento de forma mais clássica, com arco, como normalmente é tocado, num memorável conjunto de jazz: o quinteto do baterista Chico Hamilton de 1955, no qual Katz atuava, ao lado do saxofonista-flautista Buddy Colette e do guitarrista Jim Hall, na linha da Third stream music.

O formidável violoncelista Erik Friedlander, 48 anos, é ativo em campos musicais os mais diversos, seja como integrante do naipe de cordas de orquestras sinfônicas, seja como solista do repertório erudito; como intérprete solitário de suas próprias criações (Block ice & propane, Skipstone, 2007) ou de composições do ultra-heterodoxo John Zorn (Volac: book of angels, vol. 8, Tzadik, 2007). E também com parceiros de seu quilate, como Mark Feldman (violino) e Greg Cohen (baixo), que com ele formam o Masada String Trio, que gravou, em 2005, o hipnótico segundo volume (Azazel) da série Book of angels, de Zorn.

O mais recente álbum de Erik – filho do célebre Lee Friedlander, cujas fotos ilustram várias capas de discos da Atlantic, inclusive a de Giant steps, de John Coltrane – intitula-se Broken Arm Trio (Skipstone 003), numa referência-homenagem ao braço quebrado de Pettiford e à história acima contada. O trio – com o baixista Trevor Dunn e o baterista Mike Sarin – é um dos mais originais, criativos e interativos jazz combos surgidos ultimamente. Friedlander usa o violoncelo como se fosse uma guitarra, com exceção de um solo com arco em Big shoes (4m13) – uma das 13 peças de sua lavra do álbum de duração inferior a 50 (mas preciosos) minutos.

Da faixa inicial – a swinging e giratória Spinning plates (3m23) – à última – Tiny (4m44), tão bluesy como Pretty penny (4m15) e a meditativa Ink (2m) – o CD é irresistível. O trio é particularmente percussivo em Cake (3m38) e na rapidíssima, desconcertante e totalmente assimétrica Jim zipper (1m08). A melancolia e a modalidade judaico-balcânicas emergem, aqui e acolá, sobretudo nas pungentes Pearls (4m36) e Buffalo (1m30).

Rachmaninov certamente acharia herético o dedilhado guitarrístico de Friedlander num instrumento concebido para gemer como a voz humana, de preferência em adágio (quando muito, em "andante cantabile"). Sobretudo num pequeno conjunto sem piano. Mas o Broken Arm Trio enquadra-se perfeitamente na definição de Whitney Balliett do jazz como the sound of surprise. Ou como serious fun (divertimento sério), para lembrar o título de um esquecido disco muito especial (selo DIW, 1989) do inesquecível Lester Bowie.




valeu, guzz pela dica. gostei tanto que postei. bjs

15.4.09

canecão, harmonia

E hoje tem Canecão, num show com Arlindo Cruz e Roberta Sá e a Orquestra Petrobrás Sinfônica, com músicas de Ataulfo Alves.
Eu toco ali ao lado do Pretinho da Serrinha ( excelente), do Mingus e do Bochecha, num naipe muito legal de percussão. È um prazer bastante grande poder conversar com eles. Pergunto-lhes sempre por ritmos, com a vontade que tenho e hei de realizar de colocar a percussão no violoncelo.
Os arranjos de Itamar Assiere estão nota 10.
Eu, com minhas novas e esperadas aquisições ( 2 livros de harmonia, um de Ian Guest e outro de Nelson Faria) inicio a escalada rumo ao improviso, o qual já tenho praticado bem mais, mas ainda intuitivamente.
Começo um sonho antigo, pondo as mãos na massa. A gente tem de começar de algum lugar, né?
Fui !

poesia coreografada

Primeiro vídeo em que participo, no youtube. Muita coragem. Agradeço ao Lula por ter me ajudado.
Aos que queriam me ouvir, aí está ( Eli, por ex.)


14.4.09

poesia portuguesa



CAMINHOS E REINVENÇÕES:
A POESIA PORTUGUESA:

DOS ANOS 90 À REVISTA "CRIATURA"



Conferencistas:

José Mário Silva (Crítico do Expresso)
António Carlos Cortez (Crítico do Jornal de Letras)



LOCAL: CASA FERNANDO PESSOA, DIA 24 DE ABRIL pelas 18.30 Lisboa



Uma conversa informal sobre as últimas tendências na poesia portuguesa actual, percorrendo diversos trilhos, desde os anos 90 às mais recentes publicações, das mais diversas editoras e revistas. O que se pretende é dar a conhecer ao público leitor de poesia nomes, obras, poemas que nem sempre têm merecido a atenção da crítica especializada. Com presença de alguns dos autores, serão lidos e pensados os textos dos poetas "novíssimos". Reflectir sobre o que é a poesia em geral, eis um primeiro objectivo. Sobre o que é a poesia dos mais novos, eis uma interrogação para a qual José Mário Silva e António Carlos Cortez tentarão encontrar respostas. Provisórias, claro.



Poetas a comentar: Miguel-Manso (1979), Andreia Faria (1984), Paulo Tavares (1977), Joel Henriques (1979), Fernando Eduardo Carita (1961), David Teles Pereira, Hugo Roque e Sérgio Lavos, poetas reunidos em torno da revista "Criatura".

13.4.09

ainda da páscoa

foi outro dia. quando perguntaram para a Sahyja se ela preferia ganhar ovo ou cenoura na páscoa ela respondeu cenoura, aí perguntaram o que ela ía fazer com a cenoura, ela respondeu: uai, salada, sopa.

bom demais, né?

dente/ páscoa

Com salário ou sem salário, passaram aqui em casa duas visitas ilustres, deixando seus presentes para a mais fofinha que conheço.
Com 5 anos, em abril, Sahyja perdeu seu 3º dentinho. A primeira vez que ela perdeu o dente foi uma mistura de informação dada pela tia, pelo tio, por mim e pela moça da farmácia. Um disse para jogar o dente no telhado e fazer um pedido, outro, para colocar o dente embaixo do travesseiro, que a fadinha do sono traria moedinhas, outro, que a fada do dente ia trazer alguma coisa surpresa. Até disseram para ela enterrar o dente na terra.
A Sa pediu para ir à farmácia tirar o dente. Em Jundiaí, isso deu certo. Mas fomos á farmacia aqui no Rio, e os atendentes se recusaram a ajudar. Notamos a diferença na hora, entre interior e capital. Ela entrou na van, assustada com o sangue que saia de sua boca, e na volta da escola me disse que su dente caiu na van, na volta.
Lembro-me agora, de que eu e meus primos tirávamos nossos dentinhos moles com alicate, com meu avô. Mas não doía não. Uma vez ele colocou um fio na porta e puxou rsrsrs. Depois entregavamos para minha avó ( linda ! )que colocava embaixo da xicara. Dia seguinte apareciam moedas.
Com a Sahyja, ficou a versão da mãe dela: a fadinha do dente traz um presente.
Por isso, minha filha ganhou uma Barbie ( sim, uma Barbie com asas lindíssimas)
uma cabana do Cocoricó ( mantendo muito mais a filosofia da educação que prezo), uma caixinha de fósforo, com o tema de Garota de Ipanema ( ela pediu, parece que tem um amigo que guarda o dentinho na caixinha ) e alguns melzinhos que ela adora.

No jantar, com um amigo, ela falava que tinha recebido a visita do coelhinho da páscoa, da fadinha do dente, e da mamãe.

Misirlou

Misirlou é uma música grega, composta em 1927 por Michalis Patrinos. Nas olimpíadas de 2004, que foram realizadas em Athenas, ela foi escolhida pelo comitê organizador como a música grega mais influente de todos os tempos, tendo sido interpretada por Anna Vissi. Outra característica interessante desta canção é que cultores de quase todos os estilos de música popular consideram-na como sua música favorita. Foi utilizada no filme Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, várias bandas de rock a gravaram (sendo a mais famosa, a versão de Dick Dale), tornou-se a música favorita entre os sérvios (que espantaram-se quando descobriram que se tratava de uma canção grega), é utilizada por bailarinas de dança do ventre e em casamentos judaicos. Apareceu também em vários video games, tais como Guitar Hero III. a grupo Black Eyed Peas usou samples da canção no seu hit Pump It.
Misirlou significa, em grego, "garota egípcia". A palavra se origina de Misr, "Egito" em árabe.


Μισιρλού μου, η γλυκιά σου η ματιά
Φλόγα μου 'χει ανάψει μες στην καρδιά
Αχ, για χαμπίμπι, αχ, για χαλέλι, αχ

Τα δυο σου χείλη στάζουνε μέλι, αχ

Αχ, Μισιρλού, μαγική, ξωτική ομορφιά
Τρέλα θα μου 'ρθει, δεν υποφέρω πια
Αχ, θα σε κλέψω μέσα από την Αραπιά

Μαυρομάτα Μισιρλού μου τρελή
Η ζωή μου αλλάζει μ' ένα φιλί
Αχ, για χαμπίμπι ενα φιλάκι,άχ
Απ' το γλυκό σου το στοματάκι, αχ


Minha Misirlou, a doçura de teus olhos
acendeu uma chama no meu coração
(Oh, meu amor, Oh, minha noite)
teus lábios gotejam mel, ah

Oh Misirlou, mágica, exótica beleza
enlouquecido de amor, não suporto mais,
vou roubar-te da terra árabe

Minha Misirlou de olhos negros,
teu beijo mudou minha vida,
Ah, ya habibi, um pequeno beijo, ah
de teus lábios tão doces



extraido de Wikipédia

12.4.09





INTUIÇÃO É UMA CIÊNCIA

Vagner Cunha

dependência

Ser dependente significa hipotecar-se a outro ser humano ou a uma causa, na infeliz esperança de, ao menos por um momento, conseguir agarrar uma pequena parcela de felicidade.


Christian Friedrich Hebbel


Aquele que tem a coragem de dizer " sim" quando quer dizer "sim" , e de dizer "não" quando quer dizer " não" - eis um homem livre.


Pitágoras

9.4.09



com Suzana Vargas, vendo a respiração do texto




com Miriam Pilz, lindíssima, poeta







com Maria Elvira Machado, coreógrafa; Alice Moreira e Carol Laner, bailarinas; e Danilo Sena, artista plástico



em cena

Trecho do conto Reunião, de Cortázar





deixar-se estar olhando o desenho feito pelos galhos da árvore contra o céu mais claro, com algumas estrelas, seguindo com os olhos semifechados esse desenho casual dos galhos e das folhas, esses ritmos que se encontram, se sobrepõem e se separam, e ás vezes mudam suavemente quando uma rajada de vento quente passa por cima das copas, vindo dos pantanais. Penso em meu filho que está longe, a milhares de quilômetros, num país onde ainda se dorme na cama, e sua imagem me parece irreal, afina-se e perde-se entre as folhas da árvore, e , em compensação, me faz tanto bem lembrar o tema de Mozart, que sempre me acompanhou, o movimento inicial do quarteto A caça, a evocação do halali na voz mansa dos violinos, essa transposição de uma cerimônia selvagem para um claro gozo pensativo. Penso-o, repito-o, cantarolo na memória e sinto, ao mesmo tempo, como a melodia e o desenho da copa da árvore contra o céu vão se aproximando, travam amizade, unem-se uma e outra vez até que o desenho se arrume, de repente, na presença visível da melodia, um ritmo que saiu de um galho baixo, quase à altura da minha cabeça, torna a subir até certa altura e se abre como um leque de galhos, enquanto o segundo violino é esse galho mais fraco que se justapõe para confundir suas folhas num ponto situado à direita, perto do final da frase, e deixá-la acabar para que o olho desça pelo tronco e possa, se quiser, repetir a melodia. E tudo isso é também a nossa rebelião, é o que estamos fazendo, embora Mozart e a árvore não possam sabê-lo, enquanto nós, à nossa maneira, quisemos transpor uma guerra tosca para uma ordem que lhe dê sentido, que a justifique e , finalmente, a conduza a uma vitória que seja como a restituição de uma melodia após tantos anos de roucas trompas de caça, que seja esse allegro final que sucede ao adágio como um encontro com a luz.

3.4.09

sobre e para meu avô ( por favor, sem pretensões literárias)



maquinaria do relogio da matriz de Bariri, construida por meu avô, Francisco Fortunato




no que o azul repele, este azul oponente, este azul de força lírica, azul de serestas ao violão, onde as fotos dos cinco filhos remam contra ou a favor de sons que se repetem pelo quintal em dias de festas.estivemos juntos no amor por uma fêmea. era a nossa casa, depois invadida pelos outros familiares. os parafusos que estavam nas gavetas da mobília do quarto, no espelho onde espantei os medos.parafusos e pedras. andar de bicicleta em busca da pedras. pular o muro da escola abandonada para brincar no parque dessa escola, e correr da mãe. que correu de seu pai. e abandonar o posto da hipocrisia.subimos os dois e você e os outros netos a escada da maquinaria da igreja cuja foto é hoje ostensiva. é o tempo da desgraça. dos pequenos ritos acabados. da divergência que a vida toma sem querer.
existe uma ponte no arquipélago das lembranças. pequenos espamos.lembro-me que dizia sobre os parafusos terem que afundar, do rodo segurando a janela para a janela não bater. tudo isto lá em cima, onde também já moraram morcegos. eram quartos e quartos para as expedições infantis. o domingo de massa. o sábado de vinho de garrafa e frios.todos os relógios da casa configurados para sempre em amor

à noite, com lua

Há na espera esférica o Você pousar sobre você. "no reencontro das coisas me reconheço."
Eu ando próxima da próxima jogada.Com alguns quesitos que não quero compreender, e uma voz golfando no fundo do sistema: prá que baila?
Nem o cigarro, nem a palma da mão, nem a voz dos dragões inconsolados tateando o fogo a preço de fumo.
Vai te catar em banhos de sais não consola.
Estão aqui os CDs açoitando os compassos compostos,na minha cabeça uma grande nuvem compacta vem me tirar para dançar, e eu espiono bananas.

2.4.09

trecho da música de André Marques

muito estudo para chegar lá.


os vizinhos

o corpo e a voz

eu vi o esquilo, gostei do parquinho, dos peixes, de ver a água cair no jardim japonês, do lanche e do bambu












Eu fui buscá-la, para estar mais pertinho, porque não existe nada melhor do que tê-la por perto, bem pertinho. A casa sem ela não tem gosto.È a sua voz que cintila o espaço, são os seus cachos que tornam minhas mãos livres, seus dentes, pequenos, espaçados, branquinhos,ou seu corpo moreno, torneado, a pele com a pele e todas as reinvidicaçôes que ela me faz nesse contrato. Não digo que ela seja minha vida, mas a melhor parte dela.

1.4.09

olha que bacana esse email que recebi do CEAT, escola em que minha filha de cinco anos estuda:


"Consultamos a diferentes sites de controle do tempo e, nos informamos que a noite de amanhã não oferecerá as condições climáticas satisfatórias para observação celeste.
Por isso, estamos adiando a atividade de amanhã, dia 02/4, para outra data que deverá ser estabelecida em período favorável, firmada pelos astrônomos.
Aguardem novo comunicado em ocasião oportuna."


Enquanto isso, aqui em casa, pouco antes de dormir, ela me explica que o sol não se apaga, apenas vai brilhar em outros cantos.