Som na caixa

27.7.09

entrevista com Fabiano Calixto

http://antologiamomentoliterocultural.blogspot.com/

hoje é segunda

está insuportável. as segundas tem essa distinção: tremem. depois de decidir não ser meu corpo o impacto da falta de freio com que instalo-me nas neuroses, faço um retrato aqúatico do meu jeito de ser. insuportável, à prova de bala, com rumores de lançamento e um script totalmente demais. a mais. sobra.

os dados do dia:
.ferver pentes escovas calcinhas e o que vier à frente
.recortar convites tortos, à luz da imaginação
. pirar. surtar.
.todas as crises de não conseguir escrever um livro


não sei se serei mãe, amiga, namorada, musicista, poeta, ou se algum dia serei normal, o que quero dizer, se estarei nos minutos, um a um, deixando de escalar , de introjetar.um minuto poderá ser um minuto? obrigada.

escrever está muito difícil.
rasgo mais, vou recortar meus poemas e colocar na porta. está decidido. a organização para mim ainda não deu aquele tchan de que se servem os quadradinhos e realistas. ela não está dando jeito.

fadiga na maquinaria. como percebem as palavras, e os que convivem

sim, uma dança

os cabelos amarrados
na mão, pelos cotovelos
como se fala- o imprevisto
do olho aberto tem muita
vontade outra vez

o sol declina uma ciranda
no chão, pro lado, preso nos
cantos onde fica a sacada, onde
é ao leste, torto. onde há uma
guerra e de algum jeito
se aprende a dizer
sim. a dizer não

a dizer sim outra vez a
dizer não outra vez. a dizer
outra coisa também como quem
diz não como quem diz sim



Manoel Ricardo de Lima
triste quando o que sai da gente não tem vez

26.7.09

quando ex namorados aparecem

não caibo no meu passado - o que era escuta tornou-se escudo. porque vem destes homens minhas palavras brutas. e no retrato intemperado que sou vivo as queixas surdas, deito-me embrulho. o que vivo de vocês em mim é impessoal e transferível

24.7.09

Johnny e a Flor Teimosa

Johnny e a Flor Teimosa
para Paulo Henriques Britto


alumiou o sonho um liso apelo rosa:
era delicado Johnny, seus olhos
tão pink e desditosos, de charmosa
fêmea voz “I can love you em teus pólos
like nobody. Try me, flor teimosa”.

dear Johnny sob postes, doce parte,
como reservas teu amor intacto
dos garçons assassinos do Caesar Park?
(há uma mulher morta no 104
e a puta loucura que me ama, arde)

há quanto espero, dear (noite sem falhas)
que alguém ame meu xadrez com sombras.
O sonho febril do toque nas galáxias

é o amor do jeito mais sozinho que ri;
em meus teas alone, Oh Johnny, eu percebi
que nobody loves me enough to kill me.


Marcelo Sorrentino

23.7.09

performance

Bruce Andrews, um dos mais importantes poetas americanos da atualidade, estará, neste sábado, no evento Livros na Mesa, da Estação das Letras, realizando uma performance poética, juntamente com a dançarina americana Sally Silvers e o poeta e performer brasileiro Márcio-André.


BRUCE ANDREWS (1948) é uma das figuras centrais no panorama da literatura mundial contemporânea. Poeta, compositor, designer de som e performer nascido em Chicago, fundou, com Charles Bernstein, a revista L=A=N=G=U=A=G=E, iniciadora do movimento de mesmo nome. É autor de mais de quarenta livros, incluindo poesia e ensaios. Desde 1975, Andrews leciona ciências políticas na Fordham University, com enfoque em capitalismo global, imperialismo americano, políticas de comunicação e cobertura política. Está também envolvido em uma série de colaborações em projetos multimídia, teatrais e performances. Foi durante muitos anos diretor do Sally Silvers & Dancers.

Livros na Mesa
sábado 25 de julho de 2009 às 11h00
Rua Marquês de Abrantes, 177 - Loja 107 - Flamengo RJ
Telefone: (21) 3237-3947
(entrada franca)

13.7.09

O açúcar e a poesia

O gourmet é como um artista, como um poeta. O paladar é um órgão tão delicado, tão digno de atenção e aperfeiçoamento quanto os olhos e os ouvidos.


Guy de Maupassant


A língua não é um órgão autônomo no que diz respeito ao paladar, ela trabalhaassociada ao olfato. quando falamos em em vinho, antes de provar o sommelier sente o bouquet

Silva Mello


O vício no sabor doce, melequento e de gosto duvidoso do açúcar faz com que o "viciado" só reconheça os sabores básicos e fortes, o salgado, o ácido e o amargo, mas prefira o doce. Os alimentos nos fornecem uma gama infinita de sabores, mas o viciado quer tudo adoçado com açúcar.

Fernando Antonio Carneiro de Carvalho



Pego hoje para ler o livro "Açúcar, o livro negro" de Fernando A. C. de Carvalho, achando estar a um passo da consciência do mal que o açúcar refinado faz em nossos organismos.
Depois de alguma leitura vejo que não tinha a menor consciência do mal que o açúcar nos faz, e muito menos de onde ele está presente

definição de açúcar dada pelo autor


açúcar- nome vulgar da sacarose refinada. Produto químico barato, extraído de um capim, que travestido de alimento, impregna a dieta do homem contemporâneo tranformando-a na ração patogênica que empurrou a humanidade para a era das doenças crônicas, metabólicas e degenerativas.


Das páginas que li hoje, achei , no entanto que o autor não compartilha da mesma forma que o sal seja um veneno, mas eu acredito que sim. Também não traz certeza quanto ao uso do leite fazer mal, embora cite um "deve ser" de acordo.


Assustou-me muito a informação de que " o açúcar mais refinado e branco tem uma pequeníssima quantidade de lixo químico fino. O mais bruto ou mascavo tem sujeira grossa-terra, resquícios de plantas, de insetos e excrementos. Além de ser úmido, o que facilita o surgimento de fungos. O cristal é menos sujo que o mascavo e mais sujo que o refinado. O demerara é um açúcar cristal ligeiramente melecado com melaço
Todos esses açúcares são sacarose mais ou menos refinada. E a sacarose extraída de um capim e adicionada aos alimentos, é a responsável direta por uma série de doenças crônicas. Assunto para a Fisiopatologia."


Critica também os remédios homeopáticos,à base de açúcares. ( e eu sou fã incondicional da homeopatia e da alopatia)




O açúcar que o autor recomenda é a frutose e glicose das frutas e do mel.


Na boa, olho para a geladeira que contém metade da vida de minha mãe ( ela esteve aqui 3 semanas) , para a quantidade de açúcar que ela insite em intuchar em mim ( que fujo) , e em minha filha (quando não estou); lembro-me de ter passado hoje mesmo na Kopenhagen, e leio a presença do açúcar na empada, no molho shoyo, na maioria dos pães integrais, na cebola do restaurante árabe, como bem citado no livro e por fim, para minha própria barriga.
Terei que rever totalmente minha alimentação, uma vez que já venha me incomodando minhas escolhas nessa área.
De tudo isso me assalto, enquanto as citações de frases no início do post pelo menos me dão uma saída para novos poemas, ou não, ao lembrar-me da quantidade de paladares não explorados ainda pelas palavras.
Gosto dessa familiaridade da estranheza, de que de repente me dou conta. Gosto de me sentir alheada, alguém que não pertence, que não entende, que não fala. De ocupar um lugar que parece não existir. Como se eu não fosse de carne e osso, mas só uma impressão, mas só um sonho, como se eu fosse feita de flores e papéis e um tsuru de origami e o eco do salto de uma rã dentro de um velho poço ou o eco dos saltos de uma mulher na calçada e as evocações de Sei Shonagon e de Basho, séculos depois.



do livro Rakushisha, de Adriana Lisboa

12.7.09

entrevista com Armando Freitas Filho

G1: Os poemas de Lar, têm caráter autobiográfico. O livro nasceu de um sentimento de nostalgia, da vontade racional de uma auto-análise ou do impulso de fazer um balanço, de passar coisas a limpo? Por quê?

ARMANDO FREITAS FILHO: Há prenúncios de Lar, no meu primeiro livro. Em Palavra, de 1963, a primeira parte, “Infância”, e logo depois o poema “Casa”, indicam isto. Por todos os outros livros, a presença da casa, do recanto (nome de um poema do meu segundo livro) familiar, do pai, da mãe, do filho, da mulher está presente, algumas vezes em primeiro plano. O que acontece agora é que o que era “de relance” se fixou (na medida do possível), em lances de memória e cotidiano, de hoje e de nunca mais, que são apresentados em close up. Por isso mesmo, com maior intimidade e permanência, numa série de cronologia acidentada, mais analógica do que lógica, digamos assim, bem de acordo com o gênero que a retrata. Poderia dizer, também, que os poros estão à mostra, isentos de distância ou maquiagem. O que acontece é que, na realidade, não passo as coisas a limpo; o que acontece é justo o oposto. Afirmo até que “Ao passar a limpo, me sujo”. Digo na orelha que é um livro da memória e não de memórias. Quando não se é Proust, o poema é o melhor instrumento para pescar o que a memória involuntária ejeta, creio eu. Nostalgia, auto-análise, balanço, racionais ou não, são inevitáveis quando se chega a uma certa idade, mesmo que conscientemente não tenha querido isso. Mas como evitar o gosto, já sem açúcar, do chiclete há muito mastigado, que foi posto, por um tempo, escondido, embaixo do tampo da mesa? Prefiro dizer, então, que o “por quê?” final de sua pergunta cabe, e se cabe, não tem resposta possível.

G1: Fale sobre o diálogo com o Drummond de Boitempo e outros autores/livros de evocação.

ARMANDO: A série de Boitempo é altamente inspiradora. Inspirar-se numa poesia inalcançável como a de Carlos Drummond é dever e desafio cotidiano de cada poeta. Por essa razão, há que achar a oportunidade de ser um mero afluente, mesmo de pouca água, para não cair na tentação de repeti-lo, o que seria, aliás, inviável, para dizer o mínimo, e alcançar, pelo menos, uma identidade própria. Por essas e outras, vou logo afirmando, no poema “Herança”, que “Menino antigo não há em mim. / Nem seu cadáver simbólico e interno.”, e, em “Moto-contínuo”, o verso final de “O elefante” de Drummond, “Amanhã recomeço.”, aparece ipsis litteris fechando a minha tentativa, não sem antes, de passagem, surgir um “monstro” com “elefantíase”. A diferença é significativa, mas não é uma má-criação: pretende ser uma variação sobre um tema famoso; de como ele foi alterado ou degradado pelo tempo, segundo a convicção de quem trabalha com seu motivo. Os livros fundamentais que merecem evocação plena chegaram primeiro, como numa amostra, através de um disco: lado A, Manuel Bandeira, lado B, Carlos Drummond de Andrade. Não me lembro de tê-los pedido ao meu pai, mas se ele me deu, devo ter feito algum movimento nesse sentido. Eu tinha 15 anos e o que ele e minha mãe desejavam para mim é que eu me formasse (já que padre, como queria a fantasia de minha mãe, estava fora de questão) em alguma faculdade “sólida”: de Direito, Engenharia ou Medicina. A poesia entraria, tal qual na vida deles, como ilustração, e nunca como raison d’ être, como acabou sendo para mim, desde menino. Poesias, de Bandeira, e Fazendeiro do ar, de Drummond, foram os meus primeiros livros “sérios”, minhas bíblias, em meados dos 50. O amor pela poesia de Manuel foi sempre feito com toda calma e profundidade de que sou capaz, mas, quanto a de Carlos, o amor sempre foi de “apache”, feito de recusas e provocações da parte dela. Isso continua até hoje, pois nunca se termina de ler autores desse porte: é uma tarefa para toda a vida.

G1: Drummond, Bandeira, Cabral e Gullar são suas principais referências. O que te toca mais em cada um desses quatro poetas?

ARMANDO: Sumariamente: em Drummond, sua capacidade natural de ser universal e imprescindível.O que meu querido e saudoso Helio Pellegrino disse, de improviso, ao meu lado, no velório de CDA, a um repórter muito moço, Arthur Dapieve, que o entrevistava, vem a ser a melhor definição da obra de Drummond para mim: “Não me entenderia direito como ser humano sem sua poesia”. Em Bandeira, a capacidade mágica de partir da imanência mais estrita para a transcendência, com absoluta precisão e economia de meios. Em Cabral, o dom de não permitir que sua mão variasse: parece que toda a sua obra foi escrita num dia só de inspiração sobre-humana. Em Gullar, a disposição de transformar-se, de correr riscos, de escrever como que no front de si mesmo, “na vertigem do dia”, e da vida.

G1: Como o amadurecimento/envelhecimento afeta a sua relação com a poesia e com o mundo? O que mudou/está mudando?

ARMANDO: O “que mudou/está mudando”? Ou é sempre o mesmo, no fundo, disfarçado? O tempo de madureza já passou: “estela fria”. O tempo de agora é sem estrelas: é uma espera que, às vezes, desespera.

G1: A passagem do tempo e o sentimento da finitude, o transitório e a precariedade da vida são os verdadeiros temas de Lar? Fale sobre isso.

ARMANDO: Sim, no alvo. Mais certeiro impossível. Acuso a flecha. Nesse sentido, a minha série “Numeral”, que Heloisa Buarque chamou de “diabólica”, começada há 10 anos, e que vai se manter até quando eu e o leitor durarmos, ou desistirmos, é a melhor prova disto: é o meu livro sem volume próprio, que pega uma carona nos livros que vierem. Lar, se encerra no número 100.

G1: Com que poetas mais jovens você dialoga? Como analisa os rumos da poesia brasileira hoje?
ARMANDO: Dialogava mais com os da minha geração: Tite de Lemos, Sebastião Uchoa Leite e Ana Cristina César, bem mais moça que nós. Com os mais moços de agora, a conversa é esporádica, como é natural, aliás. Não os nomeio porque não há nenhum com quem tenha a mesma intimidade que tive com os citados, que envolvia poesia e vida, intensamente. Seria inventar uma relação que não possuo. Acho a poesia contemporânea atual exuberante. Pena que os media não a divulguem como merece. Há uma tendência para eleger somente o poeta que chega atrelado a algum crítico de renome que, por assim dizer, “adota” este poeta, como de estimação, e vice-versa, para a vida inteira. É uma relação que confunde ou mistura amizade com mérito. Parece até que para o poeta “adotado” um só leitor é bastante e para o crítico correspondente uma poesia é mais do que suficiente, pois aparece isolada, sem “contrastes e confrontos”. Esses duetos, por natureza, são excludentes, previsíveis, não confiáveis. Quase se pode dizer que de um livro para o outro só se precisaria trocar o nome do volume, que o comentário anterior serviria. O curioso é que o poeta analisado não merece nenhum reparo: é um ser perfeito, solitário na sua excelência, que acaba sendo suspeita. Isso pode gerar, no poeta e no crítico, uma “preguiça” perigosa, uma mesmice paralisante. Os que estão fora desse circuito envenenado pela claustrofobia não merecem sequer menção, nenhuma indulgência, apenas o silêncio da indiferença calculada, ou da ignorância incalculável, ou, ainda, da sabotagem, pura e simples, dependendo do caráter do crítico. Um pouco de “literatura comparada” (será esse o nome?) não faria mal a ninguém, ou, para eles, o “inferno são os outros”, mesmo?

G1: Faz falta um sentido de grupo, de movimento de cumplicidade geracional hoje? Como a cumplicidade que ensejou poetas como Ana Cristina Cesar?

ARMANDO: Acho que a nova geração tem o mesmo “sentido de grupo” e “cumplicidade geracional” que nós tivemos. É da condição humana, da ordem natural das coisas esse comportamento, sociologicamente falando, na ferocidade breve, muito breve! da juventude. E hoje eles têm uma proximidade até mais rápida, que a camisinha de Vênus eletrônica proporciona com profusão e segurança. Afinal, a internet, como o nome indica, aproxima por dentro, entra, entre, na teia de cada um, instantaneamente, e como!

G1: Você sente que o status do poeta na sociedade está mudando? O espaço e o valor da poesia, no sentido estrito, estão diminuindo? Ou poetas ainda terão o peso e a influência que tiveram, por exemplo, Bandeira e Drummond? Por quê?

ARMANDO: A poesia moderna sempre foi para raros. Mallarmé achava que os poetas nem deviam aparecer nos jornais, que as edições de poesia deviam ser de tiragem reduzida etc. Aqui no Brasil, os poetas de livro quiseram disputar holofotes com os compositores de música popular, a partir dos anos ‘60. Ainda peguei a época que os compositores populares disputavam as láureas com os eruditos: Ary Barroso x Villa-Lobos e não Ary x Bandeira, por exemplo. Para mim, cada macaco no seu galho é sempre melhor. Poetas com o peso de Bandeira e Drummond é que são difíceis, muito difíceis de achar. Devemos nos contentar com a nossa magreza, ou, então…, engordar. Ao contrário da vida real, engordar poeticamente, é sinal de saúde e tão difícil como quem quer emagrecer para o espetáculo da passarela, seja ela qual for. Mas se olharmos bem, há um ou dois que são fausse maigres.

G1: Se você encontrasse o jovem poeta que estreou com Palavra, em 1963, o que diria a ele? E o que acha que aquele poeta te diria?

ARMANDO: Eu: Silence, exile and cunning.Ele: O que quer dizer cunning?

TRÊS POEMAS DE LAR,:

Escrevo nas costas da mãe
conspurcada pelo amor
nas costas dos tios empertigados
pela indiferença e sarcasmo
na cara dos primos exemplares
reescrevo, corrijo, fazendo
pressão com o lápis rombudo
para marcar minha dissidência
na família programada, mas
sob os olhos sérios do pai
que me desencurva, e apoia
mesmo desconfiado
em palavra explícita para
não frisar demais sua intenção
seu ódio difuso que também
me atinge em forte trans
fusão, consigo, comigo mesmo
até alcançar a malvada consciência.

***
Mil folhas. Mesmo em algumas das mais
passadas, um pouco do sabor, um risco
de doçura e amargo, é remanescente.
Anamnésia construída pelo fato
e pela imaginação: vai do anátema
ao enaltecimento, expressos em alta voz
até ao murmúrio cifrado no coração.
O acervo de uma vida se dispersará
depois de ela parar: alguma coisa
aqui, nesta casa, para lembrar quem se foi
fica, sem roubo nem degradação, sobrando.
O resto, espalhado na desordem dos arquivos
dos sebos e brechós, nós defeitos
na mudança para lugar nenhum
perdido no limbo, reciclável em outro corpo
e destino, longe do clamor da hora
cada vez mais afastado do limiar original
da montagem do dia, à margem do relógio
rasgado por mãos alheias, posto fora
o sonho, que se açucara, perde o gosto, e fere.

***

Da casa dos três dígitos
não saio mais. Trinco.
Dia após dia de prisão
na cidade em carne viva.
Entre em si para sempre:
tendo de seu, apenas o bodum
ranzinza do corpo
que vai se resignando
a não perseguir o inominável
nem a se persignar



Entrevista concedida a Luciano Trigo , por ocasiaão do lançamento do livro Lar,
de Armando Freitas Filho

1.7.09

pergunta-se

Um dos questionamentos em que temos pensado e falado, é sobre a questão utilitária imposta pela sociedade capitalista. Para você ser alguém é preciso que faça algo, que produza. De preferência que gere retorno monetário.
É muito gratificante para mim quebrar esse preceito. Como diz Rolando Toro, a maior proibição era o sexo. Hoje em dia a maior proibição da nossa sociedade é ter intimidade com as pessoas.
Eu acredito que haja tempo para tudo, embora sim, o tempo esteja estranho para nós.
Consigo enxergar a monotonia das grandes cidades, revestida de um ultrapassar de canelas que quase me convence que estamos vivendo.
Já se torna cansativa a constatação de que vivemos quantidade e não qualidade.
Por isso meu apoio total à criação da Ecovila, como uma forma de pensar mesmo.
Como conversamos, critica-se muito as drogas e tal, mas não se fala dos efeitos químicos dos enlatados e outras porcarias em nosso cérebro.
Sou totalmente a favor da revolução, da transgressão desses nossos padrões morais , éticos e por que não, até mesmo estéticos.
Gostaria de dividir um trecho de O Livro do Chá ( um livro com que tenho me deliciado) que fala sobre o Tao, e o Chaismo e que mexeu comigo devido á flexibilidade que procuro.

Dissemos que o Absoluto taoista era o relativo. Eticamente, os taoistas afrontaram as leis e os códigos morais, pois , para eles, certo e errado eram termos relativos. definir é sempre limitar-"fixo" e "imutável" não passam de termos que expressam a interrupção do crescimento.
Disse Kutsugen: "os sábios movem o mundo". Nossos padrões de moralidade decorrem de necessidades passadas da sociedade, mas esta permanece sempre a mesma? A prática das tradições comunitárias implica sacrifício permanente para o Estado. A educação, a fim de manter a poderosa ilusão, fomenta uma espécie de ignorância. Não se ensina as pessoas a serem realmente virtuoas, mas a se comportarem convenientemente.Somos maus porque somos espantosamente autoconscientes.
.....
Como se pode levar a sério o mundo se ele próprio é tão ridículo? O espírito de barganha está em toda parte. Honra e castidade! Eis o vendedor complacente vendendo a varejo o bem e a Verdade! pode-se até comprar o que chamam de religião, que na verdade não vai além de uma moralidade comum, santificada com flores e música. despoje-se a Igreja de seus acessórios- o que restará?? No entanto, as crenças prosperam às maravilhas, pois os preços são absurdamente baixos-ingresso ao céu por uma prece, uma cidadania honrada por um diploma.
.....
A força de uma idéia não reside menos em seu poder de imiscuir-se no pensamento contemporãneo do que em sua capacidade de dominar os movimentos futuros.
... Todavia, a principal contribuição do taoísmo à vida asiática encontra-se no campo
da estética. Os historiadores chineses referiam-se sempre ao taoìsmo como a "arte de estar no mundo"- porque ela trata do presente: nós mesmos. È em nós que Deus faz seu encontro com a Natureza, e o ontem se distingue do amanhã. O presente é o infinito em movimento, esfera legítima do Relativo


Particularmente, sou a favor do Chaismo, e estou encantada com tudo que aprendi sobre ele. Por isso, temos feito o ritual do chá, á nossa maneira, ocidentalizada, e sem tudo o que seria uma cerimônia do chá, a não ser o próprio chá, e não da maneira que se toma o chá no ritual do chá.
Ou seja, não temos feito o Ritual do chá, por enquanto. Mas já pedi a Casa do chá lá na Ecovila.
E chá, já tomo, direto.
Os meus chás preferidos são o tchai ( mas este leva leite e leite faz mal) e o chá branco. Mas gosto também do chá de hortelã e de ervadoce.
A mistura entre chás também é bem gostosa.
Já se foi o tempo em que achava ruim tomar chá quando estivesse calor.

minha irmã tocando violino