5.12.09
Um poema de Paulo Henriques Britto
A surpresa do amor - quando já não se
espera do mundo nada em especial,
e a evidência de que os anos vão se
acumulando sem nenhum sinal
de sentido já não dói nem comove-
quando em matéria de felicidade
não se deseja nada mais que uns nove
metros quadrados de privacidade
para abrigar os prazeres amenos
do sexo fácil e da literatura
difícil- eis que então, sem mais nem menos,
como quem não quer nada, suge a cura-
definitiva, radical, imensa -
do que nem parecia mais doença.
espera do mundo nada em especial,
e a evidência de que os anos vão se
acumulando sem nenhum sinal
de sentido já não dói nem comove-
quando em matéria de felicidade
não se deseja nada mais que uns nove
metros quadrados de privacidade
para abrigar os prazeres amenos
do sexo fácil e da literatura
difícil- eis que então, sem mais nem menos,
como quem não quer nada, suge a cura-
definitiva, radical, imensa -
do que nem parecia mais doença.
2.12.09
quarta de manhã
Insegura na aula de harmonia, pelas dificuldades que encontro, pelas facilidades com que os outros vêem as minhas dificuldades, ouvindo sobre graus instáveis e estáveis, me sinto o acorde mais instável .
Lembrando a tese dos opostos se atraírem, ou pensando num 5 grau com sétima, um pouco estável, um pouco instável.
Em aula, a ótima frase de Dalton:
" Às vezes não basta a genética, tem que ver a cultura do acorde. O cara nasceu no país da dominante, mas foi educado em outra área."
" O tom é o que menos importa. Tem que ver a relação entre os acordes."
| Lembro-me dos nossos pais, e a diferença entre eles. lembro-me das nossas cidades, do nosso caráter, das nossas rebeldias, como avançam de modo distinto.
Frases ditas em contextos que transfiro para outros campos. Só para brincar de pensar?
E assim os que olham meus olhos , dizem que estão perdidos.
E assim, as minhas teses ( todos temos as nossas), as confirmações que desabam , e todo este avacalhado a que chamam Nora.
Lembrando a tese dos opostos se atraírem, ou pensando num 5 grau com sétima, um pouco estável, um pouco instável.
Em aula, a ótima frase de Dalton:
" Às vezes não basta a genética, tem que ver a cultura do acorde. O cara nasceu no país da dominante, mas foi educado em outra área."
" O tom é o que menos importa. Tem que ver a relação entre os acordes."
| Lembro-me dos nossos pais, e a diferença entre eles. lembro-me das nossas cidades, do nosso caráter, das nossas rebeldias, como avançam de modo distinto.
Frases ditas em contextos que transfiro para outros campos. Só para brincar de pensar?
E assim os que olham meus olhos , dizem que estão perdidos.
E assim, as minhas teses ( todos temos as nossas), as confirmações que desabam , e todo este avacalhado a que chamam Nora.
1.12.09
18 RUGBY STREET
(...)
E então me dei conta do mistério
Dos seus lábios, que eu nunca vira iguais,
Lábios grossos de aborígene. E do seu nariz,
Largo, apache, quase nariz de boxeador,
Escorpião reverso da águia semítica
Que fazia de toda câmara sua inimiga,
Carcereira da sua vaidade, traidora
Na sua Sonhos Sexuais Ltda.,
Nariz das hordas de Átila: rosto prototípico
Que eu poderia ter visto em meio à fumaça
De uma fogueira navajo. E suas têmporas pequenas
Onde as raízes dos cabelos abundavam, sempre à sombra
Da franja glamourosa que a moda ditava.
E seu queixinho delicado, queixo de Peixes.
Nunca foi um rosto em si. Nunca o mesmo.
Era como o rosto do mar – palco
Para tormentas e correntes, ao sabor de sol e lua.
Jamais foi um rosto, até a manhã final
Em que virou um rosto de criança – a cicatriz
A marca do seu Criador. Porém naquele dia você declamou
Um poema comprido sobre uma pantera negra
Enquanto eu a abraçava e beijava e tentava impedi-la
De esvoaçar pelo quarto. Apesar disso,
Você não quis ficar.
Caminhamos rumo ao sul, atravessando Londres, até
Seu hotel na Fetter Lane. Em frente a ele,
Numa ruína de bombardeio transformada em canteiro de obra
Nos agarramos, tontos, para nos proteger,
E num barril descemos juntos
Um Niágara. Descendo o rugido
Da sua alma, sua cicatriz falou-me –
Como se fosse seu nome secreto, ou sua senha –
Da tentativa de suicídio. E escutei,
Sem cessar por um momento de beijá-la,
Como se uma estrela sóbria sussurrasse
No céu da cidade a rodopiar: mantenha distância.
Estrela covarde. Já não me lembro
Como me contrabandeei, envolto em você,
Para dentro do hotel. Lá estávamos os dois.
Você, esbelta, ágil, lisa como um peixe.
Você era um mundo novo. Meu novo mundo.
Então é isto a América, maravilhei-me.
Belíssima, belíssima América!
Ted Hughes em "Cartas de aniversário",
tradução de Paulo Henriques Britto
E então me dei conta do mistério
Dos seus lábios, que eu nunca vira iguais,
Lábios grossos de aborígene. E do seu nariz,
Largo, apache, quase nariz de boxeador,
Escorpião reverso da águia semítica
Que fazia de toda câmara sua inimiga,
Carcereira da sua vaidade, traidora
Na sua Sonhos Sexuais Ltda.,
Nariz das hordas de Átila: rosto prototípico
Que eu poderia ter visto em meio à fumaça
De uma fogueira navajo. E suas têmporas pequenas
Onde as raízes dos cabelos abundavam, sempre à sombra
Da franja glamourosa que a moda ditava.
E seu queixinho delicado, queixo de Peixes.
Nunca foi um rosto em si. Nunca o mesmo.
Era como o rosto do mar – palco
Para tormentas e correntes, ao sabor de sol e lua.
Jamais foi um rosto, até a manhã final
Em que virou um rosto de criança – a cicatriz
A marca do seu Criador. Porém naquele dia você declamou
Um poema comprido sobre uma pantera negra
Enquanto eu a abraçava e beijava e tentava impedi-la
De esvoaçar pelo quarto. Apesar disso,
Você não quis ficar.
Caminhamos rumo ao sul, atravessando Londres, até
Seu hotel na Fetter Lane. Em frente a ele,
Numa ruína de bombardeio transformada em canteiro de obra
Nos agarramos, tontos, para nos proteger,
E num barril descemos juntos
Um Niágara. Descendo o rugido
Da sua alma, sua cicatriz falou-me –
Como se fosse seu nome secreto, ou sua senha –
Da tentativa de suicídio. E escutei,
Sem cessar por um momento de beijá-la,
Como se uma estrela sóbria sussurrasse
No céu da cidade a rodopiar: mantenha distância.
Estrela covarde. Já não me lembro
Como me contrabandeei, envolto em você,
Para dentro do hotel. Lá estávamos os dois.
Você, esbelta, ágil, lisa como um peixe.
Você era um mundo novo. Meu novo mundo.
Então é isto a América, maravilhei-me.
Belíssima, belíssima América!
Ted Hughes em "Cartas de aniversário",
tradução de Paulo Henriques Britto
27.11.09
26.11.09
não tão seriamente assim, ou mais seriamente que isso
Difícil que eu não lasque essa tontura da qual falo quando amo. Difícil quando através da erupção transgressora a que designo amor.
Teste o silêncio, veja se ele pode ser impresso em alguma parte do seu corpo. Responda através da respiração.
Se o desejo se embaralha aos jogos de fuga, ou se eu voltar com estes papos descabidos. Ou os sonhos se obnublarem até que a prática seja esforço.
O lance é que os desejos por mim eu os torno retrógrados ou alvo de rechaças.
O desejo é aleatório?
É na crise que o desejo se questiona.
Teste o silêncio, veja se ele pode ser impresso em alguma parte do seu corpo. Responda através da respiração.
Se o desejo se embaralha aos jogos de fuga, ou se eu voltar com estes papos descabidos. Ou os sonhos se obnublarem até que a prática seja esforço.
O lance é que os desejos por mim eu os torno retrógrados ou alvo de rechaças.
O desejo é aleatório?
É na crise que o desejo se questiona.
O moço dos arcos periféricos ama os Beatles.
Você viu a capa da Bravo, os quatro na piscina ?
Você viu a capa da Bravo, os quatro na piscina ?
Os arcos periféricos, sem o moço.
Os arcos de uma igreja ou de um museu.
O moço do Arcos da Lapa. O mesmo que ama os Beatles.
O moço arqueado.
Os arcos que o moço viu quando moço.
O moço que usava arcos no cabelo.
As crinas de arco dos arcos de um conjunto instrumental.
A íris do moço com arco no cabelo.
O moço do arco barroco.
Um quarteto.
Todos os moços que um moço possa ser.
Alguns moços que se parecem com o único moço descrito.
Os Beatles sampleados.
24.11.09
Caetano em Lisboa
O CINEMA FALADO
(projecção na Cinemateca Portuguesa em colaboração com a Casa Fernando Pessoa)
A Caetano Veloso associamos, claro, a música e a poesia. Menos o cinema que, no entanto, faz igualmente parte do seu universo. Caetano tem, desde finais dos anos 1960, uma extensa filmografia como compositor e várias participações como actor. Como realizador, estreou-se em 1986, com um filme de registo documental que permanece relativamente pouco conhecido. Depois de o ter mostrado em Lisboa em Fevereiro de 2000, é a O CINEMA FALADO (110 min.) que a Cinemateca volta para uma sessão organizada em colaboração com a Casa Fernando Pessoa que, pela mesma altura, recebe Caetano Veloso e o poeta e filósofo Antonio Cicero como participantes de uma conferência sobre a influência de Mensagem de Fernando Pessoa no movimento tropicalista.
Com a presença de Caetano Veloso e Antonio Cicero.
Sábado 5 de Dezembro pelas 19h00, na Sala Dr. Félix Ribeiro, Rua Barata Salgueiro, 39. Tel. 21.3596200.
(projecção na Cinemateca Portuguesa em colaboração com a Casa Fernando Pessoa)
A Caetano Veloso associamos, claro, a música e a poesia. Menos o cinema que, no entanto, faz igualmente parte do seu universo. Caetano tem, desde finais dos anos 1960, uma extensa filmografia como compositor e várias participações como actor. Como realizador, estreou-se em 1986, com um filme de registo documental que permanece relativamente pouco conhecido. Depois de o ter mostrado em Lisboa em Fevereiro de 2000, é a O CINEMA FALADO (110 min.) que a Cinemateca volta para uma sessão organizada em colaboração com a Casa Fernando Pessoa que, pela mesma altura, recebe Caetano Veloso e o poeta e filósofo Antonio Cicero como participantes de uma conferência sobre a influência de Mensagem de Fernando Pessoa no movimento tropicalista.
Com a presença de Caetano Veloso e Antonio Cicero.
Sábado 5 de Dezembro pelas 19h00, na Sala Dr. Félix Ribeiro, Rua Barata Salgueiro, 39. Tel. 21.3596200.
12.11.09
Baile Convulsão no Centro Cultural Carioca - 15/11 - Domingo
Amigos,
Vem ai mais um show do Baile Convulsão no dia 15/11 , dessa vez será no Centro Cultural Carioca.
Segue abaixo o vídeo release para o show da banda, que possui 7 integrantes , entre eles 2 ( Tiago Rodrigues e Lula Mattos ) da Orquestra voadora .O show conta também com a participação especial de Nora Fortunato no Violoncelo. Vale a pena dar uma conferida para ter uma idéia do que vem por aí.
Vem ai mais um show do Baile Convulsão no dia 15/11 , dessa vez será no Centro Cultural Carioca.
Segue abaixo o vídeo release para o show da banda, que possui 7 integrantes , entre eles 2 ( Tiago Rodrigues e Lula Mattos ) da Orquestra voadora .O show conta também com a participação especial de Nora Fortunato no Violoncelo. Vale a pena dar uma conferida para ter uma idéia do que vem por aí.
Assinar:
Postagens (Atom)